10+4
Mania Akbari, Dah be alaveh chahar, Irã, 2007

10+4 parece utilizar como trampolim de sua realização uma inversão de imagens: a atriz principal de Dez, de Kiarostami, tornando-se diretora de um filme nos mesmos princípios, a figura de sua amiga careca sentada no banco do carona transportada para ela mesma, a ficção cinematográfica de uma perda de cabelos por quimioterapia tornada realidade. No entanto, Mania Akbari não potencializa este efeito de dispositivo à maneira do mestre do qual ela se coloca à sombra – nem mesmo quando convida a tal amiga a compartilhar o quadro com ela e expõe claramente a ironia do destino que fez com que elas se tornassem parecidas. Sucumbindo a uma filiação afetiva, ela nem mesmo consegue reinterpretar cinematograficamente sua herança formal direta.

Mas talvez o que mais incomode neste filme seja a total subserviência das imagens a uma lógica de terapia pessoal. Akbari está do lado do expurgo de sua dor e ao apontar uma câmera observacional para si, encerra o circuito do testemunho de seu sofrimento e de seus encontros sobre si mesma. Mesmo em momentos em que o inesperado se produz, como aquele em que um homem bate à janela do carro, incomodado por não reconhecer claramente na imagem dela uma mulher, nos sentimos assistindo a imagens de auto-vigilância vaidosa. Se este filme se pretende um processo em que imagem e personagem caminhariam juntas, uma revelando a outra, ele acaba se desenvolvendo como um diário aborrecido, escrito de si para si mesmo. A inspiração kiarostamiana não é capaz de impulsioná-lo para além do registro cotidiano e o quadro não aspira ao mundo, fechando-se sobre um rosto que olha apenas seu próprio reflexo.


Tatiana Monassa