10+4 parece utilizar como
trampolim de sua realização uma inversão de imagens: a atriz principal de Dez, de
Kiarostami, tornando-se diretora de um filme nos mesmos princípios, a figura de
sua amiga careca sentada no banco do carona transportada para ela mesma, a
ficção cinematográfica de uma perda de cabelos por quimioterapia tornada
realidade. No entanto, Mania Akbari não potencializa este efeito de dispositivo
à maneira do mestre do qual ela se coloca à sombra – nem mesmo quando convida a
tal amiga a compartilhar o quadro com ela e expõe claramente a ironia do
destino que fez com que elas se tornassem parecidas. Sucumbindo a uma filiação
afetiva, ela nem mesmo consegue reinterpretar cinematograficamente sua herança
formal direta.
Mas talvez o que mais incomode neste
filme seja a total subserviência das imagens a uma lógica de terapia pessoal.
Akbari está do lado do expurgo de sua dor e ao apontar uma câmera observacional
para si, encerra o circuito do testemunho de seu sofrimento e de seus encontros
sobre si mesma. Mesmo em momentos em que o inesperado se produz, como aquele em
que um homem bate à janela do carro, incomodado por não reconhecer claramente na
imagem dela uma mulher, nos sentimos assistindo a imagens de auto-vigilância vaidosa.
Se este filme se pretende um processo em que imagem e personagem caminhariam
juntas, uma revelando a outra, ele acaba se desenvolvendo como um diário
aborrecido, escrito de si para si mesmo. A inspiração kiarostamiana não é capaz
de impulsioná-lo para além do registro cotidiano e o quadro não aspira ao
mundo, fechando-se sobre um rosto que olha apenas seu próprio reflexo.
Tatiana Monassa
|