Sukiyaki
Western Django é um de remake de Django, spaghetti western de
Sergio Corbucci – o macarrão japonês substituindo
o italiano na “fórmula”. Mas o que o filme quer
realmente ser é um pout-pourri de gêneros “menores”: spaghetti
western, filme de yakuza, filme de samurai,
anime. Para Miike, trata-se de criar um espalhafato
da violência, mezzo-dramalhão novelesco, mezzo-sátira
de clichês de filmes de ação repetidos à exaustão.
Neste sentido, o prólogo de abertura é bastante
significativo: à frente de um cenário de deserto
deveras fake, Tarantino interpreta um durão
sábio, numa cena em que a rivalidade entre dois
clãs (Heike e Genji) é evocada. A trama de Django acena
no horizonte e Tarantino, símbolo máximo da releitura
e reinvenção de clichês de filmes de ação baratos,
apresenta-se inserido num universo de esculhambação
mais escancarada do que ele poderia criar.
O filme de Miike é, definitivamente, um filme “sem
classe”, que reivindica para si o exagero e trabalha com o óbvio na chave
do escracho. E sua eventual graça está justamente aí: além do enredo emprestado
de outro filme, a ênfase em fórmulas mais do que desgastadas, como o menino
que perdeu o pai, uma histórica oposição mortal entre dois clãs, o forasteiro
habilidoso que não se filia a grupos, ou mesmo a brava guerreira que ressurge
do passado. Em termos formais, a referencialidade também não se dissimula: close-ups à la Sergio
Leone, música à la Ennio Morricone, metáforas vagabundas.
Mas, em meio a tudo isto, há um interessante
jogo estético entre as diferentes instâncias que o filme aciona. O pistoleiro
solitário traz consigo as armas do velho oeste e o marrom predominante
na paleta de cores de seu mundo de origem para este ambiente dominado por
duas forças opostas, cada uma delas portando uma das cores da bandeira
do Japão. Da terra, passamos para o branco da neve e o vermelho do sangue
como forças cromáticas na imagem e, dos tiros, às espadas e coreografias
marciais.
Esta relação entre o western do oeste e o do leste, um quê conflituosa
e sempre presente, tira o filme do âmbito de uma simples paródia ou pastiche,
para lançá-lo no terreno do reconhecimento de traços estilísticos dos sub-gêneros.
Nesta fusão impossível e problemática do seu sukiyaki western, Miike faz
uma espécie de estudo, no qual reconhece o parentesco entre os filmes de ação
do Ocidente e os do Oriente e procura criar um vai-e-vem de gestos clássicos
presentes em cada um destes cinemas. Para além deste jogo, apenas a diversão
cinéfila com a iconicidade e os referenciais que o filme apresenta. De uma forma
ou de outra, digamos que Miike consegue levar a cabo sua proposta de forma bastante
satisfatória.
Tatiana Monassa
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