OM SHANTI OM
Farah Khan, Om Shanti Om, Índia, 2008

Berço de cinema popular, Bollywood tem sua produção imersa em regras que garantem, através de fórmulas incansáveis, sua aceitação pelo público local na Ìndia, onde o cinema realmente ainda é a maior diversão do povão. Mas a indústria local não pode deixar de olhar para si própria e é isso o que Om Shanti Om realiza: ao mesmo tempo uma paródia e uma reflexão sobre os gêneros e o sistema de produção que garantem a perenidade de sua aceitação popular.A diretora Farah Khan, apesar de ter aqui apenas o seu segundo trabalho na realização, tem experiência como coreógrafa em mais de 70 títulos, o que acaba por avalizá-la como um nome plenamente apto a fazer com seu filme a quase síntese de um cinema de gêneros, que, se obviamente não são exclusivos da produção “bollywoodiana”, assumem com ela aspectos bastante peculiares.

Om Shanti Om tem seu início como uma comédia bastante gaiata, onde vemos um aspirante a ator, Om (Shahrukh Khan), dominado pela vontade de subir na carreira e pela paixão pela estrela Shanti (Deepika Padukone, lindíssima, como não podia deixar de ser uma estrela de Bollywood). A comédia vai aos poucos absorvendo elementos de romance, que assume tintas melodramáticas, que se transmuta em thriller, com tempero de histórias de fantasma e salpicado de pitadas de quase todos os sub-gêneros de cinema popular. Mas seja qual for o momento do filme, esse não deixa de ser pontuado por números musicais – encenados pela diretora com maestria e banhos de ironia – tão caros ao formato consagrado por Bollywood. Até mesmo em sua duração excessiva, ao menos para o público ocidental, o que gera uma irregularidade na narrativa, que não deixa de ser inerente à sua proposta, Farah Khan e seu filme são coerentes com aquilo que pretendem abordar.

Temos então um curioso exemplar de meta-cinema, que consegue ao mesmo tempo satirizar e olhar de forma apaixonada e carinhosa sobre seu objeto. Se o excesso de referências locais pode não ser de todo percebido por um público não familiarizado com toda a complexidade do universo cinematográfico “bollywoodiano”, Om Shanti Om se comunica com facilidade e se impõe acima de tudo como uma celebração. Celebração essa que não parece ter dificuldades em contagiar a audiência e transmitir, como podemos ver nos festivos momentos dos créditos finais, que o cinema é arte-indústria que advém de uma cumplicidade, seja entre realizadores e platéia, seja entre os diversos membros de uma numerosa equipe onde o diretor apareceria apenas como a ponta de um iceberg.

Gilberto Silva Jr.