O LAR
Ursula Meier, Home, Suíça/França/Bélgica, 2008

Sem apelar para um surrealismo metafórico, O Lar trabalha o inusitado do argumento de uma família vivendo à beira de uma auto-estrada sem circulação de veículos de forma naturalista com toques de fábula. Os pais e os três filhos levam sua agitada vida em comunhão uns com os outros e com o ambiente que os circunda. O isolamento social tensiona as relações, fortalecendo a intimidade e abrindo brechas para choques internos. À medida que o roteiro avança e o equilíbrio comunitário passa a ser ameaçado pela crescente castração da liberdade pela abertura da auto-estrada, as insatisfações dos personagens começam a colocá-los uns contra os outros. A vastidão da paisagem e a crescente circulação de veículos diante deles opõe-se então a seu progressivo encerramento no interior do concreto.

A situação sem saída armada poderia facilmente converter-se numa tragédia pela revelação de ímpetos ocultos dos personagens, mas a diretora trabalha-os sempre na chave da idiossincrasia e da instabilidade, de forma que a intensificação do drama apenas acentua aspectos que já estavam lá, dos quais, sem dúvida, a aparente desordem mental de Isabelle Huppert, que estaria controlada pela paz do cotidiano bucólico, é o mais relevante. Este manejo que Meier mantém sobre seus personagens, equilibrando-os todos em importância no interior da casa e recusando a encerrá-los num perfil pré-definido, preferindo encontrá-los nas falas e movimentações, é o que O Lar guarda de mais interessante. De resto, o colapso familiar por falta justamente de uma solução possível para o impasse proposto emperra a conclusão do filme e torna o confronto que poderia transformar os personagens no desdobramento de uma série de situações tediosas que terminam por ofuscar a vivacidade inicial do filme.


Tatiana Monassa