Uma das coisas mais interessantes em O Último Reduto, para além do fato de ser um filme que nasce
eminentemente de um complexo sócio-espacial restrito e delimitado, é que ele
trata de um universo de excluídos absolutamente de dentro. Não apenas porque
o diretor é de origem árabe e é a própria cultura dos imigrantes muçulmanos que
pauta a ambientação e o drama, mas principalmente porque todos os jogos de
poder e de interesse se passam no interior mesmo deste microcosmo periférico,
distante da presença opressora dos habitantes “legítimos” da nação (no caso, a
França). E, embora em um ou outro momento o filme pareça metaforizar grandes
problemas políticos e econômicos em situações cotidianas, flertando com o
cinema político mais corriqueiro, a encenação de Ameur-Zaïmeche suscita
interrogações a todo instante.
A meio caminho entre um realismo
social de observação e uma dramatização que não esconde sua artificialidade, o
realizador deixa entrever princípios de representação que certamente fogem em
alguma medida à nossa compreensão de público ocidental. Princípios relacionados
com a ilustração expositiva de problemáticas pela palavra (e aqui questões sindicalistas
podem se equivaler a posturas diárias que assegurem um mínimo feel good),
sobretudo na prática do debate. Por fim, seu cuidado plástico
consegue impregnar o que poderia parecer um exercício de estilo frio de
uma carga de testemunho desconcertado, sem certezas nem conclusões
sugestionadas, que revela mais uma inquietação com a habitação humana dos
espaços e as posturas dos homens uns em relação aos outros do que um arcabouço
de idéias sobre uma determinada situação real que pode ser claramente apontada
no mapa mundi.
Tatiana Monassa
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