O ÚLTIMO REDUTO
Rabah Ameur-Zaïmeche, Dernier maquis, França-Argélia, 2008

Uma das coisas mais interessantes em O Último Reduto, para além do fato de ser um filme que nasce eminentemente de um complexo sócio-espacial restrito e delimitado, é que ele trata de um universo de excluídos absolutamente de dentro. Não apenas porque o diretor é de origem árabe e é a própria cultura dos imigrantes muçulmanos que pauta a ambientação e o drama, mas principalmente porque todos os jogos de poder e de interesse se passam no interior mesmo deste microcosmo periférico, distante da presença opressora dos habitantes “legítimos” da nação (no caso, a França). E, embora em um ou outro momento o filme pareça metaforizar grandes problemas políticos e econômicos em situações cotidianas, flertando com o cinema político mais corriqueiro, a encenação de Ameur-Zaïmeche suscita interrogações a todo instante.

A meio caminho entre um realismo social de observação e uma dramatização que não esconde sua artificialidade, o realizador deixa entrever princípios de representação que certamente fogem em alguma medida à nossa compreensão de público ocidental. Princípios relacionados com a ilustração expositiva de problemáticas pela palavra (e aqui questões sindicalistas podem se equivaler a posturas diárias que assegurem um mínimo feel good), sobretudo na prática do debate. Por fim, seu cuidado plástico consegue impregnar o que poderia parecer um exercício de estilo frio de uma carga de testemunho desconcertado, sem certezas nem conclusões sugestionadas, que revela mais uma inquietação com a habitação humana dos espaços e as posturas dos homens uns em relação aos outros do que um arcabouço de idéias sobre uma determinada situação real que pode ser claramente apontada no mapa mundi.

Tatiana Monassa