MAX PAYNE
John Moore, Max Payne, EUA, 2008

Não vejo a menor graça nesses games modernos. A emulação do real me parece uma bobagem bem distante e muito menos interessante do que os divertidos bonequinhos de Atari e quetais. Por isso não pude fazer a lição de casa. Nunca joguei esse tal de Max Payne, agora adaptado para o cinema com Mark Wahlberg no papel do detetive brutal. Mas cinema não depende disso. Não precisamos fazer comparações. Precisamos apenas ver como o diretor John Moore se sai no projeto mais comercial de sua carreira.

Ele, que já havia explorado tons de marrom em seu irregular O Vôo da Fênix, remake de um filmaço de Robert Aldrich; já tinha brincado com possibilidades de preto e vermelho em A Profecia, remake do original de Richard Donner, agora se joga em tons de verde e cinza em Max Payne, que de certa forma é outro remake.

A mistura de realidade com fantasia me pareceu bem-sucedida por dois motivos: a) o tratamento visual de Max Payne é brilhante, comprovando o bom olho de Moore para o uso das cores, em parceria com o diretor de fotografia Jonathan Sela (o mesmo de A Profecia); b) Mark Wahlberg, com todos os senões, é um ator de certo carisma, que consegue iluminar algumas cenas com sua canastrice simpática, de eterno new kid on the block.

Existe ainda outro atrativo, mais ou menos importante, conforme as referências de quem estiver vendo o filme: Mila Kunis se revela pela primeira vez uma atriz capaz de fazer esquecer seu trabalho na deliciosa série That 70s Show. Seu papel como Mona Sax, espécie de poderosa negociante vinda da Rússia, surpreende pela maneira como se encaixa na narrativa, sem parecer um acessório e buscando, ela também, sua vingança.

Apesar desses trunfos, e de ser o melhor filme de John Moore até aqui, Max Payne peca em um importante fator: não há possibilidade de identificação com a dor do protagonista. Podemos compreender suas ações violentas e impensadas, motivadas por um sentimento de que não há mais lugar para ele no mundo, e que só o interessa uma possibilidade de reencontro com os que já se foram. Mas não compactuamos de sua dor, talvez porque já o acompanhamos depois da tragédia com sua família, talvez porque os flashbacks em cores quentes tenham atrapalhado ainda mais por atenuarem o sombrio que dominava a narrativa, agora adornada com breguice. O fato é que o filme parece pedir que haja essa identificação, e como ela não vem, sente-se que algo ficou manco. Ainda assim, é uma possibilidade de ação mais inteligente e visualmente mais interessante do que a última aventura de 007, com quem divide o circuito dos multiplexes.


Sérgio Alpendre