CAOS CALMO
Antonello Grimaldi, Caos Calmo, Itália/Reino Unido, 2008

O mar. Uma morte. O luto. Estes três fatores bastariam para aproximar Caos Calmo de O Quarto do Filho. Mas há ainda a presença iluminada de Nanni Moretti, tanto no papel principal quanto na escritura do roteiro (aqui, adaptado). A morte, no entanto, não decorre de um acidente “anti-natural”, e não atinge um descendente, mas um progenitor. Cabe ao impassível Moretti, então, lidar com a filha, herdeira involuntária daquilo que se foi. No entanto, não é exatamente pelo processo tradicional de luto que o filme se envereda, preferindo utilizar-se de subterfúgios para poder transmitir a desorientação no mundo que a morte provoca. Desta forma, mesmo estando claramente abalado e reativo ao trauma, Pietro, o personagem de Moretti, forja para si uma rotina que beira o surrealismo, na qual se sobressai sua profunda tranqüilidade e sua interação com a porção de cidade na qual decidiu se instalar.

Naquela praça em frente à escola, um novo mundo se desenha: o dia-a-dia de uma pequena lanchonete, a rotina de desconhecidos que por ali passam todos os dias, as infinitas variações que um farniente diário é capaz de revelar. Neste cenário improvável, assistimos até ao desenrolar de uma intriga empresarial, com direito a reuniões a rigor. A beleza do filme de Antonello Grimaldi está sobretudo na condução de atmosfera e na criação de estados emotivos que transpõem construções dramáticas. De fato, Caos Calmo é capaz de nos transportar para um além perceptivo em sintonia com o personagem, no qual cada uma de suas oscilações subjetivas reverberam como plot points. No mundo paralelo de Pietro, muito se passa dentro da sua cabeça; e a isto temos acesso por suas eventuais narrações em primeira pessoa ou por seus constantes pontos de vista. Grimaldi consegue, assim, de forma um tanto minimalista, narrar todo o universo de apreensões, expectativas, decepções, que se encontra fora das imagens em si.


Tatiana Monassa