Bela Noite para Voar
é no máximo uma espécie de bônus
para aqueles que assistiram à estapafúrdia
minissérie da Globo sobre Juscelino Kubitschek
anos atrás. Apenas algumas inversões de
atores: Mariana Ximenes não é mais o miscasting
de menininha-candanga-violentada mas amante de JK, Julia
Lemmertz passa de esposa jovem do presidente a mulher
do opositor Carlos Lacerda. Essas referências
cruzadas são todo o interesse possível
do filme. No resto, o filme é uma incompetente
produção sub-orçada e tornada ridícula
pela incapacidade em encontrar soluções
que minimizem, ou incorporem esteticamente, a falta
de meios (mesmo os "efeitos especiais", que
na Globo já eram afrontosos, atingem aqui um
novo patamar).
Zelito Vianna nunca foi exatamente um bom diretor, mas
aqui as coisas saem de controle. As sequências
são sumárias, sem ligação,
bruscamente montadas e destituídas de qualquer
coisa que possa lembrar ritmo, o que impede de forma
definitiva a instalação do espectador
na ficção que acontece diante dele. As
situações de suspense são canhestras,
as frases mais carregadas ideologicamente não
têm a menor naturalidade na boca dos atores e
o próprio nacionalismo do filme soa tão
infantil, desajeitado e anacrônico que ele parece
apenas servir para afagar o ego dos patrocinadores estatais
(e é claro que existe uma discussão gratuita
sobre a Petrobras e os interesses nacionais). Diminuindo
o desastre, apenas José de Abreu, que consegue
conferir a seu personagem (ou esboço de personagem)
uma robustez apesar da inexistência de tecido
ficcional que envolva os causos e anedotas já
lendários de Juscelino. No mais, Bela Noite
para Voar é apenas um sintoma da caduquice
histórica, política e estética
de uma geração.
Ruy Gardnier
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