BELA NOITE PARA VOAR
Zelito Vianna, Brasil, 2008

Bela Noite para Voar é no máximo uma espécie de bônus para aqueles que assistiram à estapafúrdia minissérie da Globo sobre Juscelino Kubitschek anos atrás. Apenas algumas inversões de atores: Mariana Ximenes não é mais o miscasting de menininha-candanga-violentada mas amante de JK, Julia Lemmertz passa de esposa jovem do presidente a mulher do opositor Carlos Lacerda. Essas referências cruzadas são todo o interesse possível do filme. No resto, o filme é uma incompetente produção sub-orçada e tornada ridícula pela incapacidade em encontrar soluções que minimizem, ou incorporem esteticamente, a falta de meios (mesmo os "efeitos especiais", que na Globo já eram afrontosos, atingem aqui um novo patamar).

Zelito Vianna nunca foi exatamente um bom diretor, mas aqui as coisas saem de controle. As sequências são sumárias, sem ligação, bruscamente montadas e destituídas de qualquer coisa que possa lembrar ritmo, o que impede de forma definitiva a instalação do espectador na ficção que acontece diante dele. As situações de suspense são canhestras, as frases mais carregadas ideologicamente não têm a menor naturalidade na boca dos atores e o próprio nacionalismo do filme soa tão infantil, desajeitado e anacrônico que ele parece apenas servir para afagar o ego dos patrocinadores estatais (e é claro que existe uma discussão gratuita sobre a Petrobras e os interesses nacionais). Diminuindo o desastre, apenas José de Abreu, que consegue conferir a seu personagem (ou esboço de personagem) uma robustez apesar da inexistência de tecido ficcional que envolva os causos e anedotas já lendários de Juscelino. No mais, Bela Noite para Voar é apenas um sintoma da caduquice histórica, política e estética de uma geração.

Ruy Gardnier