Por um cinema ordinário
Homem de Ferro já é um dos maiores sucessos no mundo
este ano, e ainda que voltemos ao personagem dos quadrinhos, ao fato de que
houve uma longa campanha de venda deste personagem, de reconstrução de sua
imagem, sendo Robert Downey Jr. escalado tão pouco e somente por sua semelhança
alcoólatra com Stark, é o cineasta que devemos reverenciar. Homem de Ferro é o grande sucesso da carreira de Favreau, mas é certo que desde seus trabalhos
anteriores ele vem buscando um conceito. Um Duende em Nova York, Homem de Ferro e Zathura têm em comum o mesmo ideal, o principio
de um cinema divertido, um cinema família, feito do modo mais correto, um
cinema simples. Anti-Michael Bay, assim como Barry Singer e Sam Raimi. Embora todos
um tanto diferentes entre si, são cinemas possíveis hoje.
Com o cinema ordinário em ação, o cinema político é desfeito.
Em cena, os árabes são peça na mão de um personagem que não se filia moralmente
aos EUA. O exército americano existe como pano de fundo, como piada: por sua
incapacidade, deve ser substituído por um homem com armadura e o melhor amigo
de Stark, um general forte, é caracterizado como um bobão. E assim se desfaz
todo o poderio político, de acordo com o que um filme como este pretende ser,
um filme comum. É muito fácil criticar o que ele não quer fazer, que é discutir
política. Daí tanto se falar sobre a forma como os árabes, o armamento, o modo
que Stark se altera diante do que vê. Favreau mostra a guerra da mesma forma
que o romance de Tony Stark e Pepper, como uma fábula infantil.
E qual o motivo da defesa deste cinema, já que não é
necessariamente algo de interesse infinito alguém despolitizar o cinema (mesmo
que no mundo nada seja sem política)? A resposta está na forma como ele
funciona e se manifesta. Afinal, é seguindo este princípio que Robert Downey
Jr. domina em cena. É a sua reconstrução desse personagem sem charme que faz
dele o que ele é e carrega o filme. É ele quem interessa aqui. O filme seria
como é se o personagem fosse caracterizado de outro modo? Ora, seria uma
idiotice afirmar que Downey Jr. brilha sozinho, pois não fosse todo o trabalho
de Jon Favreau, de que forma o filme estruturalmente permitiria isso a ele? Que
outro herói recente no cinema foi re-construído em torno do seu ator? Homem
de Ferro é um filme eficiente. E num mundo pós-tudo, o cinema ordinário se
tornou vanguarda.
Guilherme Martins
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