BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS
Christopher Nolan, The Dark Knight, EUA, 2008

O que mais irritava em Batman Begins era a desonestidade de Christopher Nolan, que incapaz de um saber-fazer razoável forjava um estilo brusco e obscurecedor. Faltava-lhe a franqueza de Tim Burton, profundamente inventivo nos retratos e, sobretudo, nas provocações (estéticas e demais), mas abertamente indisposto nas cenas de ação. No primeiro Batman de Nolan, quem pagou o pato foi o espectador exigente, que queria ver e não apenas entender e, no entanto, ficou perdido no meio da decupagem que lhe negava, a todo tempo, o essencial da ação e dos gestos, restando-lhe as sobras inúteis.

Em O Cavaleiro das Trevas, uma conquista: a humildade. Nolan não chega a desistir, mas enfraquece conscientemente a busca de um estilo (que, de qualquer modo, inexiste no seu cinema) e assimila melhor o ofício do condutor de espetáculos. Se compararmos seu trabalho em O Cavaleiro das Trevas à confusão do outro filme, é como se ele finalmente tivesse passado pela lição primordial da simplicidade, e ido razoavelmente direto ao ponto, quase sempre colocando em cena não mais que as demandas imediatas de um dado personagem num dado momento. A moeda de faces iguais de Harvey Dent dá um pouco o tom do filme: assim como só há uma sorte possível para cada personagem, só há um modo de encenar cada ação, e Nolan tenta chegar o mais próximo disso. Claro que tudo que ele consegue é ultrapassar em alguns degraus aquela premissa mínima do cinema de super-herói, que consiste em abrir, nos espíritos desimpedidos, o espaço que o prazer da grande aventura requer. Mas sempre que o filme ameaça ficar morno, entra o jogo de máscaras e caretas cujo artífice mor é o Joker da era do Terror de Heath Ledger, a carta guardada na manga.

A fórmula ainda se acha um pouco limitada: visão política embaçada (elefante de signos, formiga de significados), ritmo desequilibrado (o filme sofre de problemas de montagem semelhantes aos dos três últimos filmes de Scorsese, que parecem pecar no bê-a-bá da coisa: saber guardar, saber excluir). Mas o caminho da simplificação já se insinua como boa estratégia.

Luiz Carlos Oliveira Jr.