Já
que sempre esculhambamos, e com razão, os tradutores
de títulos de filmes em lançamento comercial, devemos
também reconhecer e louvar quando o título português
é inventivo. E, convenhamos, ao sair de Hors de prix
e nos depararmos com Amar... Não Tem Preço, evocando
o famoso comercial de um cartão de crédito, percebemos
que a tradução capta todo o espírito do filme: uma série
tresloucada de compras em cartão e amor vendido a golpes
de diamante e roupas caras, para ao final mostrar que
o verdadeiro amor, aqui identificado com a idiotice
e a teimosia, não é questão de dinheiro. E talvez o
título português seja mesmo a idéia mais interessante
a sair do filme, porque Pierre Salvadori não está lá
muito interessado em trabalhar nenhuma dinâmica além
da rotina costumeira dos corpos opostos se atraindo,
e não consegue extrair em termos de ritmo ou de vivacidade
nada muito significativo.
O filme toma a dinâmica do casal que se encontra fortuitamente,
à Levada da Breca, ele travado e correto, ela
saidinha e quebrando todas as regras; ele é funcionário
de um hotel, ela uma caçadora de maridos ricos. Mas
o cenário é, ou se supõe, lubitschiano, com os hotéis
de balneário no lugar dos palacetes e um certo ar de
Sócios de Alcova que nunca se concretiza. Sabe-se
por quê: porque pertence a Lubitsch esse tipo de comédia
sofisticada com personagens adoravelmente escroques
e deliciosamente frívolos, porque envolve uma questão
de ritmo de fala (aqui totalmente ausente), de velocidade
das ações e dos movimentos dos personagens, além da
leveza geral do todo, uma leveza tanto do andamento
do filme quanto dos valores nele em jogo. E aqui,
por mais que Gad Elmaleh seja um bom ator físico e Audrey
Tautou seja graciosa (às vezes ao nível da irritação),
falta imaginação cênica à interação entre os dois, assim
como falta em geral uma desenvoltura em transformar
aquele mundo em algo mais palpável. Assim, o filme fica
restrito a um teatro sem instauração e a uma exibição
vulgar de objetos de fetiche (relógios, motocas, vestidos
e outras roupas luxuosas, além de quartos régios de
hotel) da qual o filme faz todo uso ideológico que pode.
Ao fim, a moral da história é a mesma do comercial de
cartão: certas coisas podem não ter preço, mas as outras
têm, e elas são tão lindas...
Ruy Gardnier
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