Votação
dos leitores
1. Medos Privados em Lugares Públicos,
de Alain Resnais
2. Zodíaco, de David Fincher
3. Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho
4. Império dos Sonhos, de David Lynch
5. Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood
6. Em Busca da Vida, de Jia Zhang-Ke
7. O Hospedeiro, de Bong Joon-Ho
8. Tropa de Elite, de José Padilha
9. Cão Sem Dono, de Beto Brant e Renato
Ciasca
Maria, de
Abel Ferrara
Maria Antonieta,
de Sofia Coppola
(veja aqui
a lista completa
dos filmes votados pelos leitores)
Escolha da redação
1. Em Busca da Vida,
de Jia Zhang-Ke
2. Medos Privados em Lugares Públicos,
de Alain Resnais
3. Império dos Sonhos, de David Lynch
4. Maria, de Abel
Ferrara
5. Cão Sem Dono, de Beto Brant e Renato
Ciasca
O Hospedeiro,
de Bong Joon-Ho
7. Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood
Os Donos da Noite,
de James Gray
Jogo de Cena,
de Eduardo Coutinho
10. A Conquista da Honra, de Clint Eastwood
(veja aqui
as listas nominais
dos redatores de Contracampo)
1. EM BUSCA DA VIDA, DE JIA
ZHANG-KE
Antes do prêmio em Veneza e antes de Em Busca da
Vida estrear no Brasil, já sabíamos da importância
da obra de Jia Zhang-ke, que em menos de uma década
se tornou o grande cineasta da China continental. Na
esteira de Plataforma, que estreou no Brasil
há alguns anos, todos os filmes seguintes de Jia foram
recebidos por nós com entusiasmo e, não raro, arrebatamento.
Após O Mundo, ele não precisava nos provar mais
nada. Ou quase nada: restava saber se a mudança de escala
de seus projetos político e estético (da província industrial
de Datong para o mundo, do plano-médio para o grande
plano geral, do espaço para o Espaço) manteria a mesma
força no filme seguinte. Em Busca da Vida responde
que não, essa força não seria a mesma: ela se ampliaria.
Num mundo em desmaterialização, ele apresenta um estranho
desejo de geografia, de ir lá onde as coisas estão acontecendo,
onde o espaço está mudando, onde um material dá lugar
a outro. Cidades são inundadas pela construção de uma
represa. Quais são as situações vitais e sociais que
acompanham esse processo? E não é só o espaço que se
reconfigura, a imagem de cinema também. Em Busca
da Vida é a grande reflexão desta década sobre a
transição do analógico ao digital como paralelo à transição
de economias em escala global (ou seja, profundamente
local). Se O Mundo parecia sugerir um cinema
que tende ao insólito, ao imaterial, ao simulacro, um
cinema de planos porosos, comportando formas que se
liquefazem de um espaço a outro, Em Busca da Vida
ao mesmo tempo reafirma esse estado de flutuação/liquefação
e resguarda, com mão de ferro, o lugar da mise en
scène e da mestria sobre a forma. Entre o
controle sem concessões da mise en scène
e a liberdade delirante dos efeitos digitais, Jia fez
um filme que se equilibra sobre um mundo em avalanche.
(Luiz Carlos Oliveira Jr.)
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a crítica do filme
2. MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS,
DE ALAIN RESNAIS
Em Medos Privados em Lugares Públicos, que parte
de uma peça do dramaturgo inglês Alan Ayckbourn, Resnais
assume uma encenação estilizada e não-naturalista, técnica
que vem burilando há mais de 20 anos, em que o cineasta
explora as características teatrais de seus roteiros,
ao mesmo tempo em que ressalta, através de minucioso
trabalho de câmera, aquilo que eles possuem de mais
cinematográfico. Vemos aqui seu momento de maior intensidade
e perfeição. Seus personagens, figuras solitárias ao
mesmo tempo patéticas e carismáticas, interagem entre
si e com cenários que não disfarçam um intencional artificialismo,
que acaba por se tornar surpreendentemente natural devido
à maneira virtuosa através da qual o diretor consegue
integrar todos os aspectos de sua mise en scène,
explorando ao máximo a fotografia e os cenários estilizados,
assim como uma minuciosa direção de atores. Todo o elenco,
em que se destacam colaboradores recorrentes dessa fase
teatral de Resnais - Sabine Azéma, Pierre Arditi, André
Dussollier - traz interpretações memoráveis, engrandecendo
essa visão renovada e particular que o diretor nos traz
sobre o eterno clichê dos corações solitários. Esses
corações - os Cœurs do título original - tentam
desesperadamente superar a frieza das emoções e relações
humanas, frieza essa destacada pela neve incessante
através da qual se faz a ligação entre as diferentes
cenas. Essa mesma frieza, no entanto, não se estende
à maneira com a qual Alain Resnais conduz seu trabalho,
aliando uma intensa jovialidade à sua experiência de
mais de oito décadas de vida e produzindo aqui mais
uma obra-prima de intensa beleza. (Gilberto Silva
Jr.)
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a crítica do filme
3. IMPÉRIO DOS SONHOS, DE DAVID LYNCH
E eis que David Lynch nos traz uma obra ao mesmo tempo
frágil e monumental, precária e elaboradíssima, dentro
e fora do seu já conhecido repertório de autor. Império
dos Sonhos inicia-se como um filme modesto sobre
os bastidores de Hollywood, evocando Cidade dos Sonhos
em diversos momentos. Mas, diferentemente deste, aqui
a percepção encontra-se alterada já de início - não
apenas pela estranheza que paira no ar, mas também pelas
cores e texturas deliciosamente vagabundas. E qual não
é a surpresa quando nos damos conta de que todas as
peças disparatadas que nos sugerem mais um misterioso
e singular quebra-cabeças sem solução e acionam nosso
mais dedicado raciocínio lógico, deixam de fornecer
pistas e tornam-se puros estímulos sensoriais? Em Império
dos Sonhos, David Lynch explora de forma assombrosa
seu próprio universo para criar um território ainda
desconhecido de nós, assíduos espectadores de cinema.
A narrativa sai definitivamente do horizonte e mergulhamos
desavisadamente num transe no limiar do inteligível.
Absortos entre a materialidade da imagem e a abstração
forjada por elas, somos transportados para um mundo
sem nome, e o que era uma sessão de cinema torna-se
uma autêntica experiência de cunho existencial. (Tatiana
Monassa)
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a crítica do filme
4. MARIA, DE ABEL FERRARA
Uma das perguntas que ficam implícitas em várias das
críticas escritas na época que o filme estreou, e também
aqui na Contracampo, era: quem protagoniza Maria?
Seria Juliette Binoche, cuja ausência é sentida por
todos os outros personagens? Ou Forest Whitaker, que
se divide entre as preocupações com o filho recém-nascido
e um casamento que vai mal das pernas e com seu programa
de TV? Ou ainda Matthew Modine, o cineasta que se vê
julgado por ter feito um filme a partir de evangelhos
apócrifos? Não seria equivocado dizer que cada um a
seu modo protagoniza o filme, mas seria esquecer a imagem
mais poderosa e aflitiva: o cineasta preso na cabine
de projeção, tentando proteger seu filme de um protesto
furioso. Não é uma simples cópia para ele, é o direito
de ter a cópia projetada. Por isso o desespero de se
trancar na cabine. Ele não quer sair dali, não quer
fugir com o filme debaixo do braço. Seu desejo é nobre,
exibir o filme, antes de qualquer julgamento. Ferrara
já declarou em algum lugar que a história remete a Scorsese,
e seu A Última Tentação de Cristo, filme que
já nasceu excomungado. Ou seja, o filme, como é baseado
em escritos não oficializados pela igreja, também nasceu
excomungado. Seria um filho de Maria, a prostituta,
não de Maria, a santa. Portanto o verdadeiro protagonista
de Maria só pode ser o filme dentro dele, o fruto
da cabeça de Modine, de sua crença na necessidade de
questionar. Ferrara sempre foi também um questionador.
Para ele é sempre mais importante duvidar das regras,
suspeitar do que é ponto pacífico. E por isso sua carreira,
hoje, só é possível com dinheiro europeu. Mas como fica
o personagem de Forest Whitaker, o apresentador de um
programa sobre teologia? Ele é o que mais se pode confundir
com o protagonista clássico: é o homem que acompanhamos
na maior parte do tempo. Somos testemunhas de suas angústias,
espectadores de seu conturbado programa, mas também
de sua vida não menos conturbada. Para ele é importante
brigar pela projeção do filme. Para ele é importante
ouvir o que o cineasta tem a dizer. Ele é o santo esperado
desde sempre por Ferrara. É o protetor dos diretores
malditos. Um santo problemático e cheio de falhas, claro,
mais falível do que o desejável. Mas se não fosse assim,
não poderia ser o santo de Abel Ferrara. (Sérgio
Alpendre)
leia aqui
a crítica do filme
5. CÃO SEM DONO, DE BETO BRANT E RENATO CIASCA
Beto Brant tem se mostrado um dos mais importantes cineastas
brasileiros da atualidade, com uma obra criativa em
que a cada filme nos surpreende pelo pensamento cinematográfico
empreendido com inteligência e sensibilidade. Em seu
último longa-metragem, consegue momentos em que a vida
brota na tela. Cão Sem Dono é um filme que entra
no corpo de seu personagem através de uma câmera de
endoscopia porque talvez não acredite que buscar por
psicologismos o aproximará de Ciro. É preciso estar
ao lado, ver e sentir de perto, às vezes de dentro.
Um cinema que abraça e abarca sua proposta e que está
longe da perfeição, de rigores, porque parte de uma
instabilidade aguda, de uma existência que passa por
um momento muito específico e oscilante: a adolescência
tardia de um rapaz de 30 anos; ele perante o mundo,
em confronto consigo e diante de uma mulher que o desconcerta
por sua beleza e ingenuidade no jeito e que o surpreende
ao aparecer com a perna quebrada, ao queimar em febre,
ao procurar por ele ao sentir-se fragilizada. Surpreende-o
mais ainda em sua doença, sua força, sua distância.
E talvez Ciro busque, sem perceber, de forma bem perdida,
a imperfeição. Já Brant atinge esta imperfeição
de forma consciente (ou consciente em sua forma)
que é a vida em seus instantes. E em meio ao cotidiano
da cidade e aos protocolos sociais e familiares, fica-se
perdido e experimenta-se a abstração, os momentos sublimes,
os momentos de morte e renascimento. Às vezes sai faísca
dos corpos. Brilhos alegres ou tristes, pedaços de vida.
(Luisa Marques)
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a crítica do filme
5. O HOSPEDEIRO, DE BONG JOON-HO
A função freqüente da crítica
é observar como e se o filme funciona, e desvendar
argumentativamente os procedimentos criativos, as significações,
os elementos expressivos e as intensidades criadas.
Mas, dando um passo atrás e olhando não
para o resultado mas para o projeto, seria altamente
improvável que uma farsa sobre política
internacional misturada com comédia, drama familiar
e thriller conseguisse dosar com eficiência todas
as emoções conflitantes proporcionadas
pela mistura de gêneros. Mas em O Hospedeiro
não é só questão de eficiência,
mas de excelência: o ecletismo operado por Bong
Joon-Ho tece sua relação com o espectador
pela crença desabusada nos códigos do
gênero (não sem uma certa ironia por vezes)
e na revitalização do fabuloso poder da
ficção de, através do fantástico,
chegar ao real. Enquanto a maioria desconfia da ficção
e do gênero multiplicando câmeras
de vídeo, técnicas de documentário,
reality show, "realismo", etc. O
Hospedeiro opta por confiar na fabulação
para dar conta de problemas muito sérios: intervencionismo
americano, baixa auto-estima nacional, falta de unidade
de pensamento. Mas O Hospedeiro não é
só o filme contemporâneo que melhor situa
a posição do indivíduo diante da
máquina governamental/corporativa que funciona
por mentiras úteis e convencimento via repetição
massiva nos meios de comunicação: é
também a descoberta de um grande cineasta, que
tem noções precisas de timing,
de ritmo de cena e de plano (nada aqui das histéricas
montagens bruckenheimerianas), elegância formal,
e mostra a suprema virtude de levar a sério os
dramas de seus personagens ao mesmo tempo que faz rir
deles. A julgar pelo também majestoso trabalho
de Hong Sang-Soo nesse sentido, é um segredo
que só os coreanos detêm hoje em dia. (Ruy
Gardnier)
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a crítica do filme
7. CARTAS DE IWO JIMA, DE CLINT EASTWOOD
A imagem de filme-espelho corta Cartas de Iwo Jima
do início ao fim. Mas ele não é apenas e é muito mais
do que espelho de seu irmão A Conquista da Honra
– como se sabe os dois foram feitos juntos, como
duas versões do mesmo evento, a Batalha de Iwo Jima,
na Segunda Guerra Mundial, um sendo “o ponto de vista
americano” e o outro “o ponto de vista japonês”. O espelhamento
que ele propaga também é ligado à obra de Clint Eastwood.
É que o filme oferece um outro, uma impressão negativa
de um movimento central no cinema do diretor. Habitualmente
centrado em uma idéia de “sobrevida” – como já
falei aqui mesmo em Contracampo –, de possibilidade
de vida apesar da idade avançada, Eastwood neste filme
nos dá um exército de homens cuja vida está limitada
por um horizonte de morte, mas de morte prematura: são
todos jovens, mas, como se fossem velhos, todos sabem
que vão morrer, todos sabem todos que vão perder a batalha
para que se dirigem. A paleta azul-acinzentada, quase
monocromática, da fotografia desenha então uma espécie
de “fantasmagoria a priori”, recorta um conjunto
de espectros mesmo antes do último suspiro. Eastwood
costuma fazer seus homens idosos saírem da escuridão
rumo à luz, em planos divididos entre uma área de penumbra
e uma de exposição “correta”. Ali, como que em um exercício
barthesiano/baziniano, ele filma quem ainda está vivo,
mas já morreu, filma lufadas de sobrevida em um horizonte
de jovens que não podem vislumbrar um futuro, mas o
faz com uma luz intensa, alva. Nesse sentido, toda dramaturgia
do filme é uma antidramaturgia. O filme é um antidrama
e, ao mesmo tempo, uma antitragédia. E a imagem, de
certa forma, uma desimagem, porque filma sempre procurando
algo que está fora. Mas não fora, ali ao lado do plano.
É um fora inalcançável, que nunca, nunca, estará lá.
Seu horizonte e do evolução dramática dos personagens
não é temporal, é mais o de formação de bolsões, da
produção de vestígios. Ali, o general Kuribayashi (Ken
Watanabe), como já escrevi, “traça suas ações para ser
o melhor general derrotado, para ter sobrevida”, mesmo
depois de morto. Por isso este é um filme definitivo
na carreira de Eastwood: pela primeira vez ele diz a
que a sobrevida serve para além do tempo (e o faz juntamente
também em A Conquista da Honra): é porque há
vestígios, é porque vidas se mantiveram, sobre-viveram
para além de suas imposições etárias, que a memória
traça sentidos. A grande aventura dos soldados de Cartas
de Iwo Jima, e de Eastwood, então, é a de se singularizarem
como memória, de deixar vestígios de que viveram plenamente,
apesar do pouco tempo que lhes resta. (Alexandre
Werneck)
leia aqui
a crítica do filme
7. OS DONOS DA NOITE, de JAMES GRAY
James Gray é um dos mais importantes cineastas americanos
contemporâneos pela conjuntura que exerce, é a mais
completa idéia do que seria o cinema narrativo em uma
concepção mais clássica, mas ao mesmo tempo permeado
por uma modernidade sob um olhar, uma forma de conjugar
referências, estilos. Os Donos da Noite é um
filme brilhante, nos seus atores sempre duros, dolorosos.
Em cena, estamos diante da crise, de um cinema perdido
em sua noção de época, de uma família que destruirá
todo e qualquer resquício de vida em nome de sua união.
Não se trata de um filme, sob qualquer hipótes,e que
acredite que a crise de Joaquin Phoenix em cena lhe
trará algum tipo de paz, ao contrário: ao fim do filme,
com a ordem supostamente estabelecida, não resta a ele
mais qualquer fiapo daquilo que um dia fez dele o homem
mais feliz do mundo. Abrimos o espetáculo com o orgasmo
de Eva Mendes, dançantes com Blondie, colorido, a imagem
do prazer. Fechamos com a tristeza, as cores desfalecidas,
e uma declaração de amor entre irmãos. Gray é o cinema,
hoje. (Guilherme Martins)
leia aqui
a crítica do filme
7. JOGO DE CENA, DE EDUARDO COUTINHO
O cinema de Eduardo Coutinho sempre teve algo de warholiano
na sua relação com as pessoas que põe em frente à camera.
Jogo de Cena é um filme radical e corajoso no
que expõe aquilo que em seus outros filmes era materia
só observada por um outro crítico, como o próprio Coutinho
mencionou em entrevistas à época do seu lançamento.
Mas não é exatamente isso que faz a grandeza deste Jogo
de Cena. Pois se Coutinho realizou aqui um dos maiores
filmes brasileiros recentes, é porque a frontalidade
com que trata elementos centrais de seu cinema é completada
com uma precisão e clareza conceituais exemplares. Da
opção por centrar o filme em mulheres ao conteúdo geralmente
envolvendo histórias de familia que dominam os depoimentos,
tudo contribui para levar ao limite da intensidade dramática
e conceitual a proposta do filme. Quanto mais emocionante
o filme se torna mais exato se torna seu jogo conceitual.
Jogo de Cena é puro melodrama no mesmo sentido
que os filmes de um Rossellini ou Dreyer, mais do quer
outro dos seus filmes, confirma a idéia do Inácio Araujo
de que o cineasta teria inventado o documentário
fantástico. O maravilhamento que cada imagem do
filme nos traz é aquele que só os maiores cineastas
são capazes de proporcionar. (Filipe Furtado)
leia aqui
a crítica do filme
10. A CONQUISTA DA HONRA, DE CLINT EASTWOOD
Como suportar o peso da História? Pois, se o peso da
guerra e seus traumas recorrentes já nos foram apresentados
de todas as formas, em A Conquista da Honra,
"lado americano" do díptico de Clint Eastwood sobre
a Batalha de Iwo Jima, o que está em jogo não é apenas
a batalha e suas feridas, mas o que se faz delas. Ao
centrar-se em uma imagem icônica do patriotismo americano
e descontruí-la, o cineasta volta a seu recorrente universo
de fantasmas humanos, mostrando que toda foto é um espectro
de um corpo existente. O caminho do filme de Eastwood,
portanto, é escavar o corpo das fotos e, assim, encontrar
neles os escombros da História. Podemos já saber de
antemão que toda História é, em parte, uma mitologia,
mas A Conquista da Honra impressiona, principalmente,
por nos jogar na cara seu peso destruidor, sepultando
corpos e destruindo vidas. O poder de uma foto é maior
do que o poder de muitas balas, e não é por acaso que
a batalha é filmada pelo cineasta de forma muito mais
seca e contida que suas repercussões. Se, em Cartas
de Iwo Jima, Eastwood chega ao lado japonês da guerra
sempre com o suporte americano (visto, inclusive, de
forma bastante simpática), em A Conquista da Honra,
paradoxalmente, sua posição é mais distante. De fora,
o cineasta nos mostra que é necessário abrir as feridas
e encontrar o sangue incrustado em cada imagem fundadora
e mantenedora do que nos acostumamos a chamar de Estados
Unidos. (Leonardo Levis)
leia aqui
a crítica do filme
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