Até agora, o Teatro não encontrou
seu próprio meio de expressão: ele se manifestou por
intermédio de uma linguagem literária, pictural, escultural,
musical ou arquitetural; ele copiou, de uma forma rudimentar,
a filosofia ou a teologia. Esta confusão origina-se
do fato do Teatro ser considerado uma “Arte” e a ele
não ser atribuída a durabilidade das outras artes.
Aqueles envolvidos com o Teatro têm se incomodado bastante
acerca do caráter de não-durabilidade do seu trabalho
e da impossibilidade de uma performance perfeita. O
ator muda, fica velho, morre; os figurinos envelhecem,
o cenário é destruído; gargantas tornam-se roucas,
um projetor quebra, um objeto desaparece no último
instante, uma fala é esquecida, uma barriga falsa arria.
Juntando os elementos de uma apresentação em palco,
obtém-se sempre um resultado distinto de cada performance.
Esforços para criar um ritual que pudesse ser repetido
com acuidade mecânica sempre foi acompanhado por um
sub-roteiro de “erros”: acidentes que sempre aparecem,
como sombras, que as pessoas de teatro atacam, pois
consideram “imperfeição”, um mal-entendimento que os
permite ignorar a verdadeira essência da linguagem
teatral, que é:
A PROVOCAÇÃO DE ACIDENTES
O Teatro deve se basear no que foi até agora chamado de “erro”: acidentes efêmeros.
Aceitando seu caráter efêmero, o Teatro irá descobrir o que é que o distingue
das outras artes e, através disto, sua própria essência. As outras artes deixam
páginas escritas, gravações, telas, volumes: objetos-vestígio que são obliterados
com o tempo por um processo muito lento. O Teatro, por outro lado, não deve nem
durar um único dia na vida de um homem. Com seu nascimento, vem sua morte. Os únicos
vestígios que ele deixará serão gravados nos homens e irão se manifestar em uma
mudança psicológica. Se o objetivo das outras artes é criar trabalhos, o objetivo
do Teatro será de mudar os homens diretamente: se o Teatro não é uma Ciência
da vida, ele não é uma Arte.
Alejandro Jodorowsky
(Publicado originalmente em City Lights Journal,
nº 3, pp 72-73.
Editado por: Lawrence Ferlinghetti, City Lights Books, 1966.
Traduzido do inglês por Tatiana Monassa.)
|