CANNES 1973

(…)
A Montanha Sagrada de Alexandre Jodorowski deveria figurar na competição [do Festival de Cannes]. Fundador do movimento “Pânico”, com Arrabal e Topor, autor de happenings, colaborador do mímico Marceau, realizador de Fando y Lis (baseado na peça de Arrabal) e de El Topo, ambos ainda inéditos na França, Jodorowski faz um cinema acima de tudo pictórico, beneficiário de enormes meios e que se situa em uma linha surrealista à Dali. A primeira hora de A Montanha Sagrada é uma sucessão de “tableaux”, onde uma imaginação luxuriante dá o seu livre curso, acumulando as paradas de monstros e de animais exóticos, as cenas de torturas e de delírio visual. Depois, o filme se encaminha em direção à sua “mensagem”: uma espiritualidade muito em voga nos Estados Unidos; a alquimia, a busca da imortalidade e do êxtase, a iluminação panteísta são evocadas em imagens, desta vez de uma enorme pobreza. As pretensões filosóficas de Jodorowski, que revela a escalada à montanha sagrada, não bastam para suplantar as imagens muito fortes que ele soube nos impor.

Michel Ciment

(publicado originalmente em Positif, Paris, nº 154, setembro 1973, p.67. Traduzido do francês por Fabián Núñez.)

 

 





Jodorowsky no Festival de Cannes.