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O Festival do Reencontro viveu um momento especial quando se projetou o filme Santa
Sangre, de Alejandro Jodorowsky. Vivia-se, pela primeira vez, a experiência
de conhecer um filme de alguém que abandonou o Chile aos 24 anos e que em sua
longa ausência de quase quatro décadas se tornou um nome no meio artístico internacional,
fazendo pantomima, romances, teatro, cinema, roteiros para HQs. Em todos esse
anos, viveu no México, Estados Unidos e França, integrou com o dramaturgo e escritor
espanhol Fernando Arrabal e o desenhista francês Roland Topor o célebre grupo
Pânico, criador em diversos domínios de uma estética nostálgica do surrealismo
sem ser exatamente surrealista, ao que não são alheios os seus filmes, como El
Topo, A Montanha Sagrada e ao que se exibiu no Festival
de
Viña.
Qualificado por alguém como “fábula grotesca, terrível e poética”, o filme cativou
em particular o público mais jovem, que acudiu massivamente a reconhecer esse
artista que inclusive para os círculos mais informados aparecia instalado em
um espaço mítico e quase de lenda.
Pode-se considerar Jodorowsky um cineasta chileno? Nos parece que não, por mais
que alguns de seus entusiastas comentadores tenham acreditado descobrir reminiscências
chilenas no olhar do cineasta. Ainda que não nos deixe surpreender que,
apesar de sua longa ausência, a novela que trouxe para ser publicada entre nós, El
Loro de Siete Lenguas, é, por onde quer que se olhe, uma história que
não
aparenta ser muito compreensível em outro país que não seja o Chile.
O que está fora de dúvida é que Jodorowsky é um artista notável, e em seus filmes – é o
caso de Santa Sangre –, projeta-se sobre um mundo delirante, no qual,
para além do horror e da loucura, se mostra, de verdade, uma proposta poética
coerente e válida.
Jacqueline Mouesca
(publicado originalmente em Cine
chileno: veinte años (1970-1990),
Santiago: Ministerio de Educación, 1992,
p.80. Traduzido do espanhol por Fabián Núñez.)
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