SMILEY FACE
Gregg Araki, EUA, 2007
 

Não há como driblar os fatos: Smiley Face chega após uma recepção fervorosa a Mistérios da Carne. Daí surge uma expectativa, até mesmo cruel, pois se esquece de toda uma carreira irregular, cujos temas mais caros parecem ter sido evitados neste filme que é uma clara tentativa de realizar um cinema um pouco mais acessível ao mercado americano numa noção bem generalizante. Mas nada disso justifica Smiley Face, um filme absolutamente equivocado. Ele é sim um filme da grife Araki – se o filme por si só já não possui características formais suficientes para demonstrar a proximidade na forma de retratar universos costumeiros dele, basta relatar que tal qual em toda sua carreira, desde os primórdios do new queer cinema, ele sempre escreveu, produziu, montou e obviamente dirigiu todos os seus filmes, o que não é diferente com este. Portanto, por mais tentador que possa ser buscar uma forma de poupá-lo por este filme, é ele próprio que não nos permite.

Escondido por trás de uma suposta noção de “filme-de-maconheiro”, Smiley Face é como uma versão indie de Cara, Cadê Meu Carro, com a idéia de um(s) personagem(s) sob influência de substâncias cometendo várias bobagens que causam uma reação em cadeia. Só que lá existia uma inventividade ausente neste filme, além de uma realização muito mais eficiente no sentido de ser engraçado mesmo. O que é mais surreal é a natureza underground que precede a carreira de Araki, confrontada ao fato de seu filme ser deveras mais preconceituoso e caricato sobre o universo maconheiro do que o “mainstream” realizado por Danny Leiner.

A despeito de Smiley Face ser tosco no pior sentido do termo, é inegável que ele se cerca de diversos signos interessantes, que poderiam gerar um filme, no mínimo, inteligente. A presença de Danny Masterson, por exemplo, um ícone do universo que remete diretamente a That 70’s Show, uma figura cuja imagem está indissociável da maconha. A seleção musical, o clima de paranóia, até mesmo o manifesto comunista, tudo isso poderia estar junto num filme verdadeiramente bom sobre o assunto. E o filme até é em alguns momentos bom, justamente por esse aglomerado de signos serem filmados, no mínimo, decentemente. Mas jamais consegue usufruir desta inteligência que o cineasta possui, pois consegue, para cada bom momento, um sem número de cenas canhestras. Na maioria do tempo, é simplesmente um filme babaca, preguiçoso, e bem menos engraçado do que deveria ser.

Guilherme Martins