I'm Not There
, de Todd Haynes

Império dos Sonhos (foto) de David Lynch,
O Sobrevivente, de Werner Herzog, Viagem a Darjeeling, de Wes Anderson, Os Donos da Noite, de James Gray, Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, e Tropa de Elite, de José Padilha, entre as críticas.

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Minha Adorável Lavanderia, de Stephen Frears (foto), A Primeira Página, de Billy Wilder, além de Steven Soderbergh, Kathryn Bigelow, etc.

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Cobertura do festival Arte.mov, Walter Silveira em nova coletânea, "cinema popular" no CineBH.

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Dos festivais e do cinema

A cada ano, o mesmo blablablá necessário: os festivais reconfiguram ano a ano nossa relação com o presente do cinema, conduzem a novas percepções, novos questionamentos. O regime intenso de ver diversos filmes por dia, alguns entre os mais esteticamente decisivos dentro do panorama contemporâneo, e ter que responder a eles no calor da hora nos leva a um estado de prontidão salutar no exercício crítico. Porque, ao contrário da academia, a atividade crítica exige a necessária tomada de posição (a crítica sem tomada de posição equivale em paladar a uma salada de alface com chuchu sem molho: inofensiva e sem graça) ao mesmo tempo a paixão e a lucidez (fórmula de Jean Douchet), o que em matéria de tempo se equaciona entre o instante e a eternidade.

Para uma revista como a Contracampo, os festivais são uma chance de entrar alegremente em regime de urgência por duas semanas seguidas, demandando trabalho diário e atualização constante. Mas os festivais não demandam só isso. Demandam, acima de tudo, o trabalho do pensamento para operar cruzamentos entre filmes, entre operações estéticas, e tentar identificar por quais caminhos segue o cinema mais estimulante, que mais pede reflexão a respeito do modo de construção da imagem (aspecto interno da linguagem) e do modo como essa imagem estabelece relação com aquilo que está diante dela (aspecto externo da linguagem).

Costuma fazer parte dos festivais a partilha entre cenário contemporâneo e filmes já consolidados na história do cinema, representados pelas retrospectivas presentes a cada ano. E é particularmente instigante sair de três filmes recentes (bons, ruins ou maravilhosos, pouco importa) e rever ou presenciar pela primeira vez o contato com um grande filme do passado. Esse curto-circuito temporal, ao invés de confundir as coordenadas, serve para colocar em perspectiva as preocuações de nosso tempo em relação a outros, criar o saudável olhar de fora que muitas vezes permite o questionamento desbravador sobre certas coisas que, perto demais, sequer enxergamos no cinema que estamos vendo. Nesse festival essa perspectiva não vai ser exercida da forma costumeira, uma vez que as duas retrospectivas de peso (John Wayne e cinema chinês dos anos 30-40) vão ser exibidos quase que integralmente em dvd. O interesse, no entanto, será compensado por um panorama contemporâneo especialmente recheado de filmes instigantes – prova de nossa expectativa é que, além de dedicarmos uma pauta de nossa seção de artigos à prospecção de alguns filmes que prometem nos cativar especialmente, e que nossa já tradicional listinha de apostas não conseguiu se fixar no também tradicional número de 30 filmes, estendendo para 35 e ainda deixando coisa boa de fora (porque, afinal, uma lista de 40, 50, 60 já perde boa parte do foco que faz a utilidade de listas desse tipo).

Já que o Festival desse ano não forneceu subsídios a esse tipo de procedimento entre passado e presente do cinema, nós, que não conseguimos viver sem isso (e acreditamos que o mesmo se dá a todo cinéfilo e admirador de arte em geral que tem a curiosidade de olhar para além de onde o olho simplesmente aponta), decidimos fazer nossa retrospectiva pessoal. E o indicado da vez foi Edward Yang, morto aos 60 anos há dois meses. Ao menos desde que Yi Yi passou pela primeira vez (também num Festival do Rio) nas telas brasileiras, Yang já merecia uma atenção mais detida a sua filmografia. No entanto, a total inacessibilidade de seus filmes anteriores a Yi Yi, mesmo no mercado informal das trocas não-oficiais, impedia um olhar sobre a carreira completa do diretor. Além da maravilha que é o último filme do diretor, motivos não faltavam para avaliar o cinema de Yang com um fôlego mais extenso: a incrível recepção de seus filmes na mídia estrangeira (em especial A Brighter Summer Day e The Terrorizer) e o pioneirismo ao lado de Hou Hsiao-hsien na constituição do cinema novo taiwanês dos anos 80 (aliás, qualquer um que possa ser considerado "ao lado de" Hou já merece figurar na grande história do cinema). Aproveitamos a situação fúnebre – parte da vida, como seus próprios filmes nos ensinaram – para prestar nosso tributo a esse realizador tão essencial quanto desconhecido de um cinema que já foi contemporâneo, e aos poucos já vai se inscrevendo como História pelo necessário transcorrer do tempo. Tempo, reflexão, perspectiva: o cinema de Edward Yang passeia por tudo isso, e, visto assim, nos estimula e guia a seguir o presente do cinema nas etapas diárias do festival. Aos que nos acompanharão (nos textos ou nos filmes ,ou em ambos), desejamos boa aventura.

 
     
  Ruy Gardnier