Quer Saber? surpreende
pela inépcia em todas as etapas de sua realização. Não
fosse nossa tolerante abrangência diante da infinita
virtualidade de opções dentro do registro cinematográfico,
seria o caso de nem tratá-lo mesmo como filme, mas como
a filmagem de uma série de encenações de esquetes, conectadas
unicamente pela recorrência de um ou outro personagem
a cada nova seqüência. Trata-se de uma narrativa, ou
ao menos o esboço de uma, que tenta se desenvolver recorrendo
ao modelo já desgastado do filme-painel. Painel, sabe-se,
quase sempre busca um diagnóstico, e o paciente aqui
é a cidade de São Paulo às vésperas das ações do PCC.
Opulência, hipocrisia, conforto da classe alta, decadência
moral, alienação, todas essas características concorrem
frouxamente para fazer casa ao clima de choque iminente.
No entanto, antes de sentirmos o asco que costuma merecer
esse tipo de narrativa generalizante e de fundo terrivelmente
conservador, sentimos pena, ou vazio, diante do efeito
não realizado através de uma estrutura mal amarrada,
quase inexistente.
Em todos os campos, o filme obedece a uma precariedade
de feitura menos que escolar, amadora. Os planos longos,
percebe-se de partida, não aparecem como solução de
mise-en-scène ou de instalação no espaço, mas simplesmente
por opção de comodidade na filmagem. Da mesma forma
o som, aparentemente apresentado da mesma forma que
foi captado, com vozes muitas vezes inaudíveis, barulhos
sem significação maior dominando o volume. Para piorar,
o filme é exibido num scope deformado, transformando
todos os atores em anõezinhos parrudos. Dentro do esquema
geral, o único aspecto não totalmente desastroso é o
trabalho das atrizes, eficientes, ainda que o filme
não estabeleça nenhum princípio de direção de atores
para criar uma certa coerência de tom e ritmo ao conjunto.
Como saldo final, temos a impressão de um produto cheio
de pompa e vontade de aparecer em suas propostas e,
ao mesmo tempo, terrivelmente incapaz em todas as instâncias
de realização. É pena. Fosse o inverso, garantiria ao
menos a simpatia, os costumeiros falsos tapinhas nas
costas de "vá em frente". Sendo como é, se conseguir
uma exibiçãozinha em tv de condomínio já está de bom
tamanho.
Ruy Gardnier
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