QUER SABER?
Paulo de Tarso Disca, Brasil, 2007

Quer Saber? surpreende pela inépcia em todas as etapas de sua realização. Não fosse nossa tolerante abrangência diante da infinita virtualidade de opções dentro do registro cinematográfico, seria o caso de nem tratá-lo mesmo como filme, mas como a filmagem de uma série de encenações de esquetes, conectadas unicamente pela recorrência de um ou outro personagem a cada nova seqüência. Trata-se de uma narrativa, ou ao menos o esboço de uma, que tenta se desenvolver recorrendo ao modelo já desgastado do filme-painel. Painel, sabe-se, quase sempre busca um diagnóstico, e o paciente aqui é a cidade de São Paulo às vésperas das ações do PCC. Opulência, hipocrisia, conforto da classe alta, decadência moral, alienação, todas essas características concorrem frouxamente para fazer casa ao clima de choque iminente. No entanto, antes de sentirmos o asco que costuma merecer esse tipo de narrativa generalizante e de fundo terrivelmente conservador, sentimos pena, ou vazio, diante do efeito não realizado através de uma estrutura mal amarrada, quase inexistente.

Em todos os campos, o filme obedece a uma precariedade de feitura menos que escolar, amadora. Os planos longos, percebe-se de partida, não aparecem como solução de mise-en-scène ou de instalação no espaço, mas simplesmente por opção de comodidade na filmagem. Da mesma forma o som, aparentemente apresentado da mesma forma que foi captado, com vozes muitas vezes inaudíveis, barulhos sem significação maior dominando o volume. Para piorar, o filme é exibido num scope deformado, transformando todos os atores em anõezinhos parrudos. Dentro do esquema geral, o único aspecto não totalmente desastroso é o trabalho das atrizes, eficientes, ainda que o filme não estabeleça nenhum princípio de direção de atores para criar uma certa coerência de tom e ritmo ao conjunto. Como saldo final, temos a impressão de um produto cheio de pompa e vontade de aparecer em suas propostas e, ao mesmo tempo, terrivelmente incapaz em todas as instâncias de realização. É pena. Fosse o inverso, garantiria ao menos a simpatia, os costumeiros falsos tapinhas nas costas de "vá em frente". Sendo como é, se conseguir uma exibiçãozinha em tv de condomínio já está de bom tamanho.

Ruy Gardnier