MADRIGAL
Fernando Pérez, Espanha/Cuba, 2006

De acordo com a recepção geral durante a cabine do Festival, parece não restarem dúvidas: Madrigal é realmente um filme muito ruim. Atores péssimos, diálogos constrangedores, elementos e viradas de roteiro que simplesmente não fazem sentido algum, uma trilha sonora de suspense que nunca encontra relação com as imagens, frases de efeito que parecem tiradas de almanaques infantis e enquadramentos ridículos que ou apontam para um “cinema de arte” de terceira, com seus plongés e travellings inusitados, ou para um “cinema comercial”, também de terceira, que não sabe como posicionar o rosto dos atores decentemente em relação à câmera. Mas Madrigal não é apenas um filme tosco, desses que provocam risos involuntários, e, se fosse, esta crítica acabaria aqui. Mais do que simplesmente um filme nulo, Madrigal é profundamente insuportável.

Isso não seria algo difícil de supor, considerando que esta é a nova ficção do diretor do também insuportável Suíte Havana. E, talvez, na relação entre as duas obras seja possível entender por que cada minuto dos cento e dez que o filme tem passam muito lentamente. Um sentimento enorme de auto-importância perpassa Madrigal, como se cada frame fizesse parte de um grande plano de entendimento do que são as pessoas, os amores, a arte e o que mais conseguir entrar em um filme. Não é necessariamente no didático que Pérez investe (ainda que seu filme seja, sim, didático), mas no profundamente significativo. Por isso, a cada cena com um mínimo de suspense – e até em algumas que não há suspense algum – é necessário um som grave e alto de piano, marcando o ritmo e nos avisando que aquilo, sim, tem importância. Por isso, pequenas ações – uma simples mentira, um diálogo recorrente, uma brincadeira de bastidores, uma revelação qualquer – transformam-se sempre em problemas de vida ou morte, carregando cada cena com um peso insustentável. Por isso, o filme faz questão de frisar cada palavra de seus atores, pois elas, aparentemente, detêm as respostas para todos os dramas da humanidade. Por isso, as frases de efeito, retomadas nos créditos finais, são acompanhadas de um eco soturno. Por isso, e pior de tudo, Madrigal precisa recontar a mesma história que acabamos de assistir, agora de forma simbólica, depois de mais de uma hora de projeção, em um mundo onde o sexo é obrigatório e as pessoas vivem como escravos. E por isso o cineasta se acha no direito de considerar que seu filme é o legítimo final que René Clair não pôde filmar. Em Madrigal, nada pode pesar menos que o chumbo, pois teria o risco de passar em branco.

Em Suíte Havana, ao transformar a difícil vida de alguns cubanos em uma “poesia visual” (dessas que rimam amor com dor), Pérez parecia disposto a emocionar a todo custo, com seus planos encenados, seus close-ups dramáticos, sua música conduzindo a narrativa e, ao mesmo tempo, servindo para resolver com facilidade todos os problemas dela. Mas, se em Suíte Havana estas operações pareciam falhas de caráter, Madrigal leva a crer que o cineasta realmente acredita, com todo o coração, naquilo que faz. E sua crença é tão forte – e tão ingênua, ou mesmo até ridícula – que Madrigal acaba caindo na vala dos filmes realmente insuportáveis. Se não fosse por isso, Pérez seria apenas um péssimo cineasta, como tantos outros, e a crítica acabaria no primeiro parágrafo.

Leonardo Levis