FOR YOUR CONSIDERATION
Christopher Guest, EUA, 2006

Christopher Guest fez sua carreira como cineasta trabalhando nos chamados mockumentaries, ou seja, pretensos documentários debochados. Apesar da boa repercussão, filmes como Waiting for Guffman e Best in Show nunca chegaram aos cinemas por aqui. Esse trabalho mais recente não segue a fórmula consagrada pelo diretor, que repete sempre sua trupe de atores. Não é um documentário fake, mas certamente preserva o deboche, tendo aqui como alvo a própria indústria do cinema.

O começo de For Your Consideration pode ser visto como uma espécie de versão cômica de A Noite Americana. Temos uma filmagem, com os protagonistas, uma dupla de atores veteranos e decadentes (Catherine O’Hara e Harry Shearer), o diretor (o próprio Christopher Guest), agentes, técnicos e produtores. Todos figuras caricatas e bastante bizarras, como se tornou padrão no cinema de Guest. Até aí, o filme guarda um certo ar de coisa já vista, apesar das boas piadas e da competente composição de personagens.

Depois de cerca de meia hora, For Your Consideration adquire sua identidade pessoal, à medida que foca seu alvo não mais nas filmagens, mas numa sátira à indústria de criação de celebridades, seus incessantes talk shows e programas de fofocas. O surgimento de sucessivos rumores acerca de possíveis indicações dos atores do filme ao Oscar detona uma metralhadora giratória de críticas perspicazes sobre egos inflados, destacando o grotesco por trás de toda uma máquina que cria, recria e digere celebridades com absurda velocidade e voracidade.

O roteiro escrito pelo diretor em parceria com o também ator Eugene Levy mantém um ritmo cômico bastante regular, apresentando uma crueldade ímpar com o universo do qual tão bem entendem. Isso compensa o fato do filme não ser nenhum primor no que tange à composição visual. Entertanto, seu humor corrosivo e seu brilhante trabalho de elenco fazem de For Your Consideration uma peça a ser apreciada com prazer e carinho; um belo exemplo da carreira de um cineasta subestimado por aqui. E não há como deixar de destacar a antológica atuação de Catherine O’Hara. Somente ela e a genial seqüência de sua entrada numa entrevista já valeriam o tempo despendido para assistir ao filme.

Gilberto Silva Jr.