cochochi
Laura Amelia Guzmán e Israel Cárdenas, México/Reino Unido/Canadá, 2006

Entre os vários meninos índios que vemos ao início de Cochochi, aos poucos se destacam Luiz Antonio e Evaristo, dois irmãos bastante diferentes entre si. Luiz Antonio, apelidado de Tony, é inteligente e tem facilidade de aprender, mas faz o que pode para fugir da escola. Interessa-se mais por aventurar-se com os amigos entre pedras e cachoeiras, fazer estripulias ou cumprir tarefas no rancho da família. Já Evaristo, em sua timidez, segue com afinco as obrigações escolares e deseja ir além nos estudos. É dos dois que a câmera vai se aproximando cada vez mais, até o ponto de utilizá-los como parâmetro absoluto para seu enquadramento móvel.

A estratégia de proximidade física da câmera com o corpo dos garotos, acompanhando seus deslocamentos espaciais e movimentos e registrando suas sutis alterações, cria aos poucos o clima de suspense e apreensão do filme. Tony e Evaristo se perdem nas montanhas, ao embarcarem na missão de levar remédios para um parente numa vila próxima. E pior: perdem o cavalo do avô, que Tony havia pegado em segredo. Um grande senso de responsabilidade parece pairar sobre aqueles meninos – em especial Evaristo, o filho “consciente”, que desde o início revela-se o interesse principal dos diretores – e uma espécie de melodrama às avessas vai paulatinamente tomando conta da narrativa: como lidar com a culpa de um consentimento silencioso quando, pela justeza de caráter, se deve assumir o erro do outro?

Extremamente desdramatizado, Cochochi contrasta uma espécie de conto moral – uma narrativa “de roteiro” – com uma frieza observacional que privilegia uma imersão no instante. Derivação ficcional de um olhar documental, o filme registra os garotos, que interpretam a si mesmos, numa “aventura” na qual o processo interno dos personagens deve ser perceptível em sua exterioridade. No entanto, dado o minimalismo dramático que Cochochi apresenta, o arco de sua progressão emotiva parece nunca atingir seu ápice. Nem mesmo no final, no momento mais intenso do filme, quando o avô conversa calmamente com Evaristo diante do cavalo “esperto”, que “sempre volta pra casa”, e o menino chora angustiadamente.

Se, por um lado, é extremamente interessante ver uma tensão crescente partir de um vazio de ação – o drama interno de Evaristo não se manifesta em expressões faciais ou gestuais, ele o atravessa como um guerreiro sem armas que persiste apenas pela impossibilidade de assumir a derrota –, por outro, decepciona o afeto rarefeito do filme, que é incapaz de extrair da imersão e da proximidade com homens e natureza o choque necessário à empatia do espectador com o trabalho da câmera (e do cinema) naquele mundo. Sem o sentimento de que algo está acontecendo e de que há uma ligação afetiva entre a instância que cria as imagens e seu objeto de interesse, o filme é tomado de uma frieza que o transforma numa espécie de relato puro e simples, no qual as angústias, apreensões e medos se aproximam mais de manifestações quase antropológicas do que de forças emotivas humanas.

Tatiana Monassa