Pode se dizer que 3 Irmãos
de Sangue é mais um do infinito lote de
documentários
que parecem feitos para passar num canal de TV a cabo.
Isso, no entanto, não faz dele necessariamente
um filme desinteressante. Se seu trabalho visual é pobre,
salvo em alguns usos de fotografias, há um trabalho
muito bom de pesquisa das imagens de arquivo. Porque
o filme se impõe um desafio natural, que é o
de colocar estas três figuras, os irmãos
Henfil, Chico Mário e Betinho, falando em cena
com a mesma naturalidade que todos os eventuais convidados
a dar depoimentos, trazendo sempre as opiniões
mais relevantes e menos auto-reverenciais, ainda que
os irmãos nutrissem muito respeito uns pelos
outros. É notável a seqüência
em que Henfil fala que expulsou Chico Mário
de casa para que ele se tornasse um pouco mais sociável.
À parte
a curiosidade de ver estas imagens tão particulares – a
grande maioria delas é material previamente
mostrado em algum outro veículo de imprensa –,
o filme carece de qualquer outra força ou ponto,
não sendo tão interessante como narração
da vida dos três irmãos, que é seu único
mote. Não traça uma idéia política,
a não ser na repetição do discurso das figuras
documentadas, e nem propriamente repercute este discurso. É um
filme perdido: se feito num corte menor pra ser exibido
na TV, deve perder alguns de seus poucos bons momentos,
mas exibi-lo no cinema simplesmente não faz
sentido.
Guilherme Martins
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