Jean-Pierre Léaud e Lou Castel em
O Nascimento do Amor, de Philippe Garrel

Artigos sobre Conceição – Autor Bom É Autor Morto e sobre o cinema de Michael Mann a partir de algumas imagens de seus filmes.

leia mais

Em Busca da Vida (Jia Zhang-ke), Medos Privados em Lugares Públicos (Alain Resnais), Harry Potter e a Ordem da Fênix, entre outros.

leia mais

Filmes de Michelangelo Antonioni (foto de Monica Vitti em Deserto Vermelho), Jean-Pierre Melville, Gus Van Sant, Sidney Lumet, Steven Soderbergh entre outros, na seção de DVD.

leia mais

Clique aqui para receber o informativo mensal com as atualizações de Contracampo.
leia mais

 
 


 
     

Edição por edição, tema por tema, índice de artigos por índice de artigos, os acontecimentos cinematográficos que nos importam são aqueles que acontecem internamente, ou seja, aqueles que nos conecernem intimamente em nossa relação com o cinema. Paralelamente, há uma lógica meio tácita e imperceptível de todo veículo mais ou menos jornalístico de tentar fazer a cobertura das atualidades, ou seja, do que está em circuito exibidor e, preferen cialmente, aqueles filmes que, entrados em cartaz, fazem os holofotes dos dois circuitos segmentados, os ditos circuitão e circuitinho. Acontece volta e meia que esses dois momentos se entrelacem, mas não é tão comum assim. Esse ano, particularmente, ainda não surgiu, seja no circuito comercial, seja no circuito de mostras, algo que coletivamente catalizasse nossas emoções e deflagrasse perturbações nas nossas formas usuais de ver e compreender cinema.

Mas ano passado houve um, no final do ano, e um muito forte. Foi Amantes Constantes, de Philippe Garrel, primeiro longa-metragem do veterano e decisivo diretor francês a ser lançado no Brasil. Ao longo desse semestre, pelo fluxo de informações e objetos que caracteriza nossa era, nos deparamos com a possibilidade de conhecer uma significativa parte de sua carreira, e o fizemos. Deslumbre completo em desbravar um universo riquíssimo, pessoal, de uma intensidade tão forte e original, e infelizmente tão pouco desbravado fora de seu país de origem (onde Garrel não ocupa mais do que a voga de um diretor underground, como um Bressane daqui). Mas, no fundo, isso guarda em si até um pouco de justiça poética. Sseus filmes estão longe da lógica do espalhafato, são peças doces, frágeis, quebradiças se manuseadas de forma rude, obras intransigentes e definitivamente voltadas para um campo de afetos aparentemente familiar, mas profundamente diferente da maior parte do cinema que se faz, ontem ou hoje.

Há, também, outra paixão, que é observar as modificações tecnológicas, históricas e de gosto e perceber como isso influi na forma como vemos os filmes de hoje, como os filmes constróem significações, a partir de que pressupostos trabalham, qual o imaginário, a relação que se desenvolve com o espectador, em que medida algo muda, em que medida algo permanece. Nas discussões internas mas também em algumas críticas publicadas nos últimos meses, o estatuto da imagem nos filmes de ação era colocado em evidência, o começo de uma modificação de percepção que vale a pena acompanhar para entender. Deixamos então a observação pontual de lado e decidimos, no momento em que alguns dos filmes chegam às telas – Homem-Aranha 3, Piratas do Caribe 3 –, dar uma atenção mais detida às intrigas artísticas e técnicas de significação do cinema de ação contemporâneo.

A edição se completa com uma reflexão acerca de alguns filmes vistos em festivais nacionais e, naturalmente, com nossa tradicional seção de DVD, que nesse número traz como principal destaque uma mini-pauta dedicada a Michelangelo Antonioni. Garrel e cinema de ação, filmes brasileiros de festival e Antonioni. Para uma tradição sisuda e ultrapassada, temas impossíveis de estar juntos numa revista séria (assim como cineasta "de gênero" como John Carpenter jamais poderiam ser considerados seriamente). Nós, ao contrário, acreditamos que arte não é um terreno estanque e bem reconhecível, mas que, ao contrário, está disseminado por todos os terrenos de uma área de atividade como o cinema e, que, por vezes, arrisca passar despercebido graças a alguns gostos e hábitos adquiridos que, como hábitos, nunca tem muito de aventuroso ou artístico. Howard Hawks foi um desses cineastas que sempre filmou a vida como aventura. Vamos então vivê-la como uma, e fazer de nossa relação com os filmes algo semelhante.

 
     
  Ruy Gardnier