HANNIBAL - A ORIGEM DO MAL
Peter Webber, Hannibal Rising, EUA/França/Inglaterra, 2007

Depois da segunda trilogia Guerra nas Estrelas, de Batman Begins, de 007 – Cassino Royale e de outros que não lembro agora, chegou a vez do filme sobre as origens de Hannibal Lecter. O truque consiste em retornar ao início de tudo, à gênese dos heróis (ou anti-heróis, ou vilão-herói, como é o caso) cujas séries de algum modo já se encontram fatigadas. Assim descobrimos que Hannibal, na infância, assistiu a asquerosos oficiais nazistas matarem sua irmãzinha para comer – eis a origem do canibalismo. A maldade toma o lugar da inocência em sua vida. Anos depois, já estudante de medicina, ele vai atrás dos assassinos da irmã, cumprindo friamente o programa de vingança. O filme em si não tem muito que acrescentar à sinopse. É como se fosse preciso refazer a ficha biográfica de um personagem famoso, para disponibilizá-la no imaginário do cinema de gênero. Seguindo essa tendência wikipédia, Hannibal – A Origem do Mal tenta conciliar as novas fontes de inspiração do cinema comercial (história em quadrinhos, filme de ação oriental) com a fonte mais antiga, literária, do romance de suspense, raiz da trama. Em outras palavras, é a tentativa de lidar com referências atuais, de ficar minimamente antenado, mas manter a elegância de um certo cinema chique, artístico (não custa lembrar que Peter Webber é o diretor de Moça com Brinco de Pérola), composto de belas imagens que contrastam com a violência grotesca do universo mostrado. Apesar de sobrar em maneirismos fotográficos e efeitos visuais enfáticos (notadamente o uso da câmera lenta e do flash-back videoclipado), o resultado do filme serve de exemplo do que é uma estética que luta como pode para ser atraente, mas não sai da inexpressividade absoluta. Na cena em que Gong Li treina Hannibal no manejo da espada de samurai, a câmera dá voltas ao redor deles em travellings insossos, que estão ali na falta de um movimento melhor. Não é um exagero provocado pela má lembrança do filme, ainda recente, dizer que a atuação de Gaspard Ulliel (o jovem Hannibal) está entre as piores da história do cinema. Ele mesmo parece encabulado entre uma e outra careta. Só não é pior que o Hannibal do Ridley Scott (imbatível ad eternum). Os únicos bons filmes com o personagem permanecem Caçador de Assassinos (Michael Mann) e O Silêncio dos Inocentes (Jonathan Demme).

Luiz Carlos Oliveira Jr.