Depois da segunda trilogia Guerra
nas Estrelas, de Batman Begins, de 007
– Cassino Royale e de outros que não lembro agora,
chegou a vez do filme sobre as origens de Hannibal Lecter.
O truque consiste em retornar ao início de tudo, à gênese
dos heróis (ou anti-heróis, ou vilão-herói, como é o
caso) cujas séries de algum modo já se encontram fatigadas.
Assim descobrimos que Hannibal, na infância, assistiu
a asquerosos oficiais nazistas matarem sua irmãzinha
para comer – eis a origem do canibalismo. A maldade
toma o lugar da inocência em sua vida. Anos depois,
já estudante de medicina, ele vai atrás dos assassinos
da irmã, cumprindo friamente o programa de vingança.
O filme em si não tem muito que acrescentar à sinopse.
É como se fosse preciso refazer a ficha biográfica de
um personagem famoso, para disponibilizá-la no imaginário
do cinema de gênero. Seguindo essa tendência wikipédia,
Hannibal – A Origem do Mal tenta conciliar
as novas fontes de inspiração do cinema comercial (história
em quadrinhos, filme de ação oriental) com a fonte mais
antiga, literária, do romance de suspense, raiz da trama.
Em outras palavras, é a tentativa de lidar com referências
atuais, de ficar minimamente antenado, mas manter a
elegância de um certo cinema chique, artístico (não
custa lembrar que Peter Webber é o diretor de Moça
com Brinco de Pérola), composto de belas imagens
que contrastam com a violência grotesca do universo
mostrado. Apesar de sobrar em maneirismos fotográficos
e efeitos visuais enfáticos (notadamente o uso da câmera
lenta e do flash-back videoclipado), o resultado do
filme serve de exemplo do que é uma estética que luta
como pode para ser atraente, mas não sai da inexpressividade
absoluta. Na cena em que Gong Li treina Hannibal no
manejo da espada de samurai, a câmera dá voltas ao redor
deles em travellings insossos, que estão ali
na falta de um movimento melhor. Não é um exagero provocado
pela má lembrança do filme, ainda recente, dizer que
a atuação de Gaspard Ulliel (o jovem Hannibal) está
entre as piores da história do cinema. Ele mesmo parece
encabulado entre uma e outra careta. Só não é pior que
o Hannibal do Ridley Scott (imbatível ad eternum).
Os únicos bons filmes com o personagem permanecem Caçador
de Assassinos (Michael Mann) e O Silêncio dos
Inocentes (Jonathan Demme).
Luiz Carlos Oliveira Jr.
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