NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO
Richard Eyre, Notes on a Scandal, Inglaterra, 2006

Os trabalhos anteriores de Richard Eyre – Íris (2001), A Bela do Palco (2004) – revelam por completo as limitações daquele que seria mais um mero “ilustrador de textos” do que um cineasta que busca de alguma forma criar ambientes e imagens. Com este novo filme, Eyre não muda muito suas diretrizes, calcando seus pilares na colaboração de atrizes consagradas (Judi Dench, Cate Blanchett) e na suposta força de um texto literário de tema bombástico. E aqui, em se tratando de um filme de temática mais densa que poderia sugerir um tratamento bastante sutil, fica evidenciada de forma bem mais intensa toda a parca competência de Eyre no que tange à construção de uma narrativa.

Existe uma série de contradições em Notas Sobre um Escândalo que se tornam aparentes já a partir de seu título. Se “notas” sugere uma aproximação discreta, intimista, ”escândalo” é um termo que por si só já está inserido numa visão exagerada, sensacionalista. E, infelizmente, a balança sobre a qual o filme se constrói acaba sempre pendendo para o segundo lado. Eyre trata questões sempre situadas no limite-tabu das convenções sociais e das emoções desmedidas – solidão, lesbianismo, repressão, adultério, sexo com menores, possessividade – de forma a dramatizar de forma excessiva todo um conteúdo que por si só já existe essencialmente em função do excesso. Algo como ampliar num microscópio a imagem já bruta de um elefante. Não dá a opção ao espectador construir para si gradativamente o drama e o perfil psicológico das personagens. Com menos de 10 minutos, tudo se revela. E, para piorar a situação, a trilha musical estridente e operística composta por Philip Glass só faz tornar todo o conjunto ainda mais desmesurado.

No que tange ao desequilíbrio do filme, este também se faz evidente na forma que esse apresenta as personagens. Por certo Notas Sobre um Escândalo é totalmente, inclusive através da narração em primeira pessoa, pontuado pela visão de Bárbara (Judi Dench). A atriz indubitavelmente se esforça em construí-la de forma delicada e coerente. No entanto, o roteiro e a direção encontram-se tão empolgados com Bárbara/Judi que a outra protagonista, Sheba (Blanchett) acaba carecendo completamente de consistência e coerência em suas motivações. Mesmo considerando que Sheba seria filtrada pelo olhar deturpado de Bárbara, ela é sempre apresentada como um boneco que alterna suas emoções e atitudes ao sabor das necessidades equivocadas que conduzem o filme. Isso vai ficando cada vez mais evidente à medida que a projeção avança, atingindo as raias do desagradável na seqüência na qual Sheba descobre todas as maquinações da pretensa “amiga”; momento que melhor retrata como um filme que poderia funcionar como uma abordagem crítica ou irônica daquilo que na imprensa se convencionou chamar de “sensacionalismo marrom” acaba paradoxalmente se transcrevendo na própria encarnação do termo.

Gilberto Silva Jr.