Os trabalhos anteriores
de Richard Eyre – Íris (2001), A Bela do Palco
(2004) – revelam por completo as limitações daquele
que seria mais um mero “ilustrador de textos” do que
um cineasta que busca de alguma forma criar ambientes
e imagens. Com este novo filme, Eyre não muda muito
suas diretrizes, calcando seus pilares na colaboração
de atrizes consagradas (Judi Dench, Cate Blanchett)
e na suposta força de um texto literário de tema bombástico.
E aqui, em se tratando de um filme de temática mais
densa que poderia sugerir um tratamento bastante sutil,
fica evidenciada de forma bem mais intensa toda a parca
competência de Eyre no que tange à construção de uma
narrativa.
Existe uma série de contradições em Notas Sobre um
Escândalo que se tornam aparentes já a partir de
seu título. Se “notas” sugere uma aproximação discreta,
intimista, ”escândalo” é um termo que por si só já está
inserido numa visão exagerada, sensacionalista. E, infelizmente,
a balança sobre a qual o filme se constrói acaba sempre
pendendo para o segundo lado. Eyre trata questões sempre
situadas no limite-tabu das convenções sociais e das
emoções desmedidas – solidão, lesbianismo, repressão,
adultério, sexo com menores, possessividade – de forma
a dramatizar de forma excessiva todo um conteúdo que
por si só já existe essencialmente em função do excesso.
Algo como ampliar num microscópio a imagem já bruta
de um elefante. Não dá a opção ao espectador construir
para si gradativamente o drama e o perfil psicológico
das personagens. Com menos de 10 minutos, tudo se revela.
E, para piorar a situação, a trilha musical estridente
e operística composta por Philip Glass só faz tornar
todo o conjunto ainda mais desmesurado.
No que tange ao desequilíbrio do filme, este também
se faz evidente na forma que esse apresenta as personagens.
Por certo Notas Sobre um Escândalo é totalmente,
inclusive através da narração em primeira pessoa, pontuado
pela visão de Bárbara (Judi Dench). A atriz indubitavelmente
se esforça em construí-la de forma delicada e coerente.
No entanto, o roteiro e a direção encontram-se tão empolgados
com Bárbara/Judi que a outra protagonista, Sheba (Blanchett)
acaba carecendo completamente de consistência e coerência
em suas motivações. Mesmo considerando que Sheba seria
filtrada pelo olhar deturpado de Bárbara, ela é sempre
apresentada como um boneco que alterna suas emoções
e atitudes ao sabor das necessidades equivocadas que
conduzem o filme. Isso vai ficando cada vez mais evidente
à medida que a projeção avança, atingindo as raias do
desagradável na seqüência na qual Sheba descobre todas
as maquinações da pretensa “amiga”; momento que melhor
retrata como um filme que poderia funcionar como uma
abordagem crítica ou irônica daquilo que na imprensa
se convencionou chamar de “sensacionalismo marrom” acaba
paradoxalmente se transcrevendo na própria encarnação
do termo.
Gilberto Silva Jr.
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