Paulo José e Grande Otelo em Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade

Filmes de Andy Warhol (foto), Losey, Fassbinder, Sternberg, Walter Hill, O Ébrio e os inéditos no cinema em nossa seção de DVD.

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da 10ª Mostra de Tiradentes.

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Reza a lenda que no Brasil o ano só começa de verdade depois do fim do carnaval. Não é tanto verdade aqui em Contracampo, mas as coincidências fizeram com que algumas pendências de 2006 viessem desaguar nesse preciso instante, como aliás é de costume por aqui: tanto melhores do ano quanto as tradicionais discussões sobre o cinema brasileiro exibido no ano anterior não costumam aparecer por aqui no calor da hora, mas calmamente, esperando seu tempo próprio. Entre melhores de público e os preferidos da redação, percebe-se algumas sintonias e algumas diferenças, menções de filmes que estão longe de ser unanimidade no seio da redação (caso principalmente de Caché e Ponto Final, que aliás foram filmes defendidos nas críticas), mas no geral percebe-se uma afinidade até com obras mais exigentes (caso de Amantes Constantes) que, para nós, só mostra que fazer confiança na sensibilidade e no discernimento de nossos leitores, mesmo em se tratando de obras consideradas áridas ou de difícil acesso (caso de Straub, Pedro Costa, Chang Cheh, Imamura nos últimos anos), acaba compensando a longo, ou mesmo a curto prazo. Tanto mais alegre é saber que se pode continuar pensando cinema sem a necessidade de atrelar a agenda à ditadura dos lançamentos mercadológicos, dos "acontecimentos" e das polêmicas requentadas de praxe que povoam boa parte da cobertura dos veículos mais tradicionais.

Mas, claro, quando aparece uma boa oportunidade para aproveitar uma situação existente e falar daquilo que nos interessa, juntamos a fome com a vontade de comer. Aos poucos, a obra de realizadores decisivos do cinema brasileiro vai ganhando lançamentos dignos em DVD, com cópia restaurada, exibição em salas de cinema para criar um bom ambiente de divulgação (e, claro, exibir os filmes da forma que foram concebidos, em película, grande, numa sala de cinema) e boa pesquisa anexa. O processo está acontecendo paulatinamente com os filmes de Glauber Rocha, os filmes de Leon Hirszman estão em processo de restauração e já tivemos uma prova do que vem por aí com os filmes restaurados de Joaquim Pedro de Andrade, exibidos na Mostra de São Paulo em outubro passado e num futuro próximo presentes nas lojas e locadoras. Oportunidade, então, para falar de um realizador canônico, diretor de algumas obras tornadas referência do cinema brasileiro – Macunaíma, sobretudo –, sobre o qual pairam alguns estigmas um tanto imobilizantes para o pensamento, mas autor de uma obra tão variada quanto estimulante pela coerência dentro da diversidade de propostas a cada filme, e vigorosa pelo intenso cuidado e entrega apaixonada ao cinema que caracterizava cada filme seu.

Compromisso completado com um ano, resta a entrega definitiva a esse novo: o circuito já nos brindou com dois Eastwood, em breve veremos Abel Ferrara voltar às salas brasileiras depois de dez anos de criminoso esquecimento pelas distribuidoras, e assim a marca de mais um ano vai aos poucos se construindo em nossos caminhos e sensibilidades. Boa jornada a nós todos.

 
     
  Ruy Gardnier