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Não faz muito tempo, foi algo
que se deu mesmo no ano passado: filmes cruciais para o panorama
do cinema contemporâno como Dez, de Abbas Kiarostami,
e Plataforma, de Jia Zhang-ke, não conseguiam
exibição nas salas de cinema do Rio de Janeiro.
Hoje, quase um ano depois, vemos um cenário diferente.
No mesmo mês, temos o lançamento de dois filmes
majestosos e absolutamente radicais em suas propostas
Um Filme Falado de Manoel de Oliveira e Brown Bunny
de Vincent Gallo , o relançamento de uma obra-prima
do cinema nacional completamente restaurada Terra
em Transe de Glauber Rocha e a transformação
de um dos melhores cinemas da Cidade de São Sebastião,
o Odeon, em sala de repertório, com uma programação
próxima do impecável. É como se tivéssemos
finalmente revertido a progressiva conversão à
província que vinha se instaurando no cenário
carioca de cinema. A esse novo cenário vem se acrescer
o florescimento de novas escolas de cinema (Escola Darcy Ribeiro,
curso de cinema na PUC-Rio) e a consolidação
das exibições alternativas na programação
dos cineclubes, cada vez mais diversos e em número
maior. É como se, graças à competição
e à diversidade de propostas, pudéssemos novamente
respirar e discutir cinema enquanto o cinema está
acontecendo a nossa volta, em todas as suas chaves: exibição,
aprendizado, produção, reflexão. Uma
comprovação um tanto lateral disso é
a recém terminada 10ª edição do
Festival Brasileiro de Cinema Universitário, que segundo
a opinião quase unânime dos participantes apresentou
sua melhor produção anual e celebrou de forma
incomum e mais do que louvável diversos
filmes com propostas bastantes pessoais e rigorosas de cinema.
E, para nossa bairrista felicidade, diversos desses filmes
têm produção do Rio de Janeiro.
Outro filme, outro cineasta de destaque no atual circuito
é Bom Dia, Noite de Marco Bellocchio. Em alta
cotação na revista desde a exibição
no Festival do Rio de A Hora da Religião (filme
que infelizmente não teve distribuição
nacional), Bellocchio é nome chave de uma certa trajetória
do cinema a partir dos anos 60 e que atravessa seu percurso
se perguntando das mudanças do mundo principalmente
a passagem da liberação do final dos 60 para
o neo-conservadorismo dos 70 e do estatuto do cinema,
sobretudo a "comodificação" do cinema
"de arte". Bom Dia, Noite surge a propósito
para jogar uma nova luz para a carreira apaixonante de um
diretor muitas vezes deixado em segundo plano (aqui mesmo
já se disse que o cinema italiano hoje só tinha
Nanni Moretti...).
Complementando nossa edição, temos nossa primeira
aproximação, a partir de uma mostra realizada
em algumas capitais, de um pouco da história de um
cinema indiano que, mesmo extremamente popular nacionalmente,
nunca foi bem recebido e exibido nos principais circuitos
do Ocidente. Cinema do espetáculo, certamente
e esse talvez constitua o principal motivo do preconceito
a da recepção tardia , mas que certamente
se constitui num fértil e importante terreno de reflexão,
principalmente num país de produção cinematográfica
de terceiro mundo como o Brasil já em 1973 Paulo
Emilio Salles Gomes, em seu mais famoso artigo, "Cinema:
trajetória no subdesenvolvimento", fazia a comparação
, em que podemos observar flagrantes semelhanças
(claro, sobretudo com a produção popular: chanchadas,
musicais, filmes regionais, comédias, etc.).
Por fim, mudanças: por motivos de organização
interna e para melhor dar conta de nossas pautas, nossa seção
de DVD/VHS deixa de entrar junto com a edição
principal e passa a ser publicada entre um número e
outro da revista, de modo a não sobrecarregar os prazos
para uma mesma data e, além disso, para fazer da revista,
junto com as seções do Plano Geral, Televisão
e Críticas, um objeto de constante atualização
ao longo do mês e maior dinamismo entre uma edição
e outra. Apenas um reflexo de algumas mudanças maiores
que em breve poderão aparecer. Boa leitura.
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