John Malkovich, Catherine Deneuve, Stefania Sandrelli e Irene Papas representando o Ocidente em Um Filme Falado de Manoel de Oliveira
A cobertura parisiense de Cannes, mais uma carta de Paris (ambos por Eduardo Valente) e texto novo de Guilherme Sarmiento.
leia mais

A coluna entrará em breve. Enquanto isso, ainda apresentamos os filmes de Fritz Lang
leia mais

Clique aqui para receber o informativo mensal com as atualizações de Contracampo.
leia mais

 
 


 
     

Não faz muito tempo, foi algo que se deu mesmo no ano passado: filmes cruciais para o panorama do cinema contemporâno como Dez, de Abbas Kiarostami, e Plataforma, de Jia Zhang-ke, não conseguiam exibição nas salas de cinema do Rio de Janeiro. Hoje, quase um ano depois, vemos um cenário diferente. No mesmo mês, temos o lançamento de dois filmes majestosos e absolutamente radicais em suas propostas – Um Filme Falado de Manoel de Oliveira e Brown Bunny de Vincent Gallo –, o relançamento de uma obra-prima do cinema nacional completamente restaurada – Terra em Transe de Glauber Rocha – e a transformação de um dos melhores cinemas da Cidade de São Sebastião, o Odeon, em sala de repertório, com uma programação próxima do impecável. É como se tivéssemos finalmente revertido a progressiva conversão à província que vinha se instaurando no cenário carioca de cinema. A esse novo cenário vem se acrescer o florescimento de novas escolas de cinema (Escola Darcy Ribeiro, curso de cinema na PUC-Rio) e a consolidação das exibições alternativas na programação dos cineclubes, cada vez mais diversos e em número maior. É como se, graças à competição e à diversidade de propostas, pudéssemos novamente respirar e discutir cinema enquanto o cinema está acontecendo a nossa volta, em todas as suas chaves: exibição, aprendizado, produção, reflexão. Uma comprovação um tanto lateral disso é a recém terminada 10ª edição do Festival Brasileiro de Cinema Universitário, que segundo a opinião quase unânime dos participantes apresentou sua melhor produção anual e celebrou de forma incomum – e mais do que louvável – diversos filmes com propostas bastantes pessoais e rigorosas de cinema. E, para nossa bairrista felicidade, diversos desses filmes têm produção do Rio de Janeiro.

Outro filme, outro cineasta de destaque no atual circuito é Bom Dia, Noite de Marco Bellocchio. Em alta cotação na revista desde a exibição no Festival do Rio de A Hora da Religião (filme que infelizmente não teve distribuição nacional), Bellocchio é nome chave de uma certa trajetória do cinema a partir dos anos 60 e que atravessa seu percurso se perguntando das mudanças do mundo – principalmente a passagem da liberação do final dos 60 para o neo-conservadorismo dos 70 – e do estatuto do cinema, sobretudo a "comodificação" do cinema "de arte". Bom Dia, Noite surge a propósito para jogar uma nova luz para a carreira apaixonante de um diretor muitas vezes deixado em segundo plano (aqui mesmo já se disse que o cinema italiano hoje só tinha Nanni Moretti...).

Complementando nossa edição, temos nossa primeira aproximação, a partir de uma mostra realizada em algumas capitais, de um pouco da história de um cinema indiano que, mesmo extremamente popular nacionalmente, nunca foi bem recebido e exibido nos principais circuitos do Ocidente. Cinema do espetáculo, certamente – e esse talvez constitua o principal motivo do preconceito a da recepção tardia – , mas que certamente se constitui num fértil e importante terreno de reflexão, principalmente num país de produção cinematográfica de terceiro mundo como o Brasil – já em 1973 Paulo Emilio Salles Gomes, em seu mais famoso artigo, "Cinema: trajetória no subdesenvolvimento", fazia a comparação –, em que podemos observar flagrantes semelhanças (claro, sobretudo com a produção popular: chanchadas, musicais, filmes regionais, comédias, etc.).

Por fim, mudanças: por motivos de organização interna e para melhor dar conta de nossas pautas, nossa seção de DVD/VHS deixa de entrar junto com a edição principal e passa a ser publicada entre um número e outro da revista, de modo a não sobrecarregar os prazos para uma mesma data e, além disso, para fazer da revista, junto com as seções do Plano Geral, Televisão e Críticas, um objeto de constante atualização ao longo do mês e maior dinamismo entre uma edição e outra. Apenas um reflexo de algumas mudanças maiores que em breve poderão aparecer. Boa leitura.

     
  Ruy Gardnier