contra-regra
Coluna semanal de televisão

Ao assistir o programa Repórter Cidadão, da RedeTV, já se espera uma enxurrada de matérias sensacionalista, reacionárias e tendenciosas; mas, nesse caso, foi algo surpreendente até pros padrões do programa apresentado por Gil Gomes. A primeira coisa que se via era a legenda para a matéria que dizia: "Se deram mal: foram mortos durante assalto". Pouco depois vinha uma entrevista com um dos policiais envolvidos na operação: "o saldo foi positivo, pois os bandidos morreram e um foi baleado". E logo, pra encerrar a matéria, o testemunho de uma transeunte: "a polícia combateu tudo da melhor maneira possível".

Jamais tinha visto algo tão sordidamente montado para legitimar, e apoiar, a morte de bandidos, baleados pela polícia. A começar pela legenda, com uma ironia cruel, como se fosse divertido ver pessoas morrendo só por serem "bandidos". Depois todo um aparato feito pra mostrar como fica tudo tão bom e tranquilo quando os "bandidos" são mortos. Ou seja, o que se viu foi uma matéria impondo que a única forma de se ter paz é matando; e finalizada com a declaração da pedestre (que obviamente teve a sua declaração deturpada por uma edição tendenciosa) de que tudo foi perfeito, algo como: "o povo nos apóia". Uma sucessão de sensacionalismos e manipulações.

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Nota 1a : A novela Da Cor do Pecado, de João Emanuel Carneiro, vem batendo todos os recordes de audiência; inclusive chegando a alcançar níveis mais altos que a novela das 8. E todo esse sucesso e identificação com o público parece-me vir de um fenômeno extremamente preocupante que vem acontecendo: um eclosão e difusão de um grande sentimento paternalista; tudo o que "passa a mão na cabeça" das minorias sociais ganha um status de obra de grande importância social; e o telespectador se sente obrigado a gostar, porque falar mal seria se mostrar um racista, preconceituoso ou algo do gênero.

Nota 1b : No BigBrother acontece um fato parecido. Durante o programa foram criados dois estereótipos (mais pela Globo e sua montagem do que pelos próprios participantes): a Turma do Boco, composta por uns caras "boa-praça", afim de curtir. E os SuperPobrinhos, composto pelos ditos necessitado do dinheiro dado ao vencedor do programa. De novo o paternalismo entra em cena e fica a pergunta: "pra quem vou torcer: pros que tão só afim de "zoar" ou pros necessitados que sofrem no dia-a-dia e se não ganharam esse dinheiro vão passar mais necessidades?". A intenção da imprensa (digo imprensa porque não é só a Globo que vestiu essa carapuça nos participantes) é, claramente, de se portar como benfeitora de um papel social.

A questão é se perguntar por que essas pessoas passam necessidades ou são discriminadas. Não é algo que vem do nada, é uma construção que vem vigente há anos e não é com atos imediatistas (e que só reafirmam a discriminação) que vai se solucionar algo.

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Nota 2: A felicidade em Malhação durou pouco; já criou-se uma trama "com mensagem" no núcleo da república (elogiado aqui semana passada). Não que as discussões ou mensagens sociais que existem na novela sejam todas ruins, o problema está onde e por quê bota-las.

Eu diria que é essencial em Malhação a abordagem de assuntos relacionados à adolescência, porém, parece-me extremamente necessário a existência de personagens mais leves, que dêem uma descontraída na trama. E esse papel vinha, há algum tempo, sendo exercido, e muito bem, pelo personagem Cabeção. Mas essa semana Cabeção começou uma trama com musculação e anabolizantes, acabando com a leveza do núcleo da República. Além de terminar com a contra-partida que era aquele núcleo descompromissado com tudo, essa atitude contraria toda a postura que seu personagem sempre teve: Cabeção era aquele "boa-praça", amigo de todo mundo, preguiçoso; e de repente jogam nele essa história de musculação, ficar "bombado".

Parece-me que pesaram demais a mão e que essa trama caiu como um OVNI no personagem de Sérgio Hondjakoff.

Francisco Guarnieri

Textos da semanas anteriores:
Semana de carnaval (por Francisco Guarnieri)
A dona da verdade (por Felipe Bragança)
Mormaço (por Felipe Bragança)
Retrospectiva 2003 – Parte 2 (por Felipe Bragança)
Retrospectiva 2003 (por Felipe Bragança)
A Grata futilidade de Gilberto Braga (por Felipe Bragança)
Aos treze (por Roberto Cersósimo)
Algum começo... (por Felipe Bragança)
Uma novela de... (por Roberto Cersósimo)
O canal das mulheres, a cidade dos homens (por Felipe Bragança)
O fetiche do pânico (por Roberto Cersósimo)
Televisão cidadã, cidadãos televisivos (por Felipe Bragança)