Bruno Andrade e Matheus Cartaxo (1)
Foco – Revista de Cinema

Quantos filmes você vê por ano ou por mês? O que pensa desta quantidade? Qual a sua relação com o circuito comercial?

Por mês, cerca de 10 filmes. Não considero um número grande, mas acho justo: nem voraz, nem apressado. Revejo muitos filmes; hoje considero que caso se vejam os 10 filmes certos para você, eles podem bastar. (M.C.)

Depende da disposição, da propensão de certos momentos, capacidade de concentração, quantidade de compromissos assumidos etc. Diria que de 5 a 10 filmes por mês. E concordo com o que disse Matheus: o verdadeiro ecletismo nada tem a ver com as confusões e as flutuações de uma falta fundamental de gosto, de uma ausência elementar de critérios. Tem mais a ver com, por exemplo, saber que num momento como o atual é apenas saudável afastar-se o máximo possível do circuito comercial. (B.A.)

Que qualidades você valoriza em um crítico?

Erudição, coragem, qualidade na escrita, despojamento, intuição e, portanto, uma grande capacidade de síntese capaz de englobar e simplificar o trabalho analítico.

Enquanto crítico, você pensa no que ficará de um filme daqui a 10 anos?

Há como não se pensar nisto ao se realizar crítica de arte (Winckelmann, Faure, Eliot, Rohmer)?

Como você avalia a influência da crítica no meio cinematográfico (realização, distribuição, público etc.)?

Ainda acredito nas lições dos mais velhos: prospecção, divulgação e criatividade. Eles usam das qualidades que prezo nos críticos para impor o bom gosto à maioria. “Os filmes são ruins se o público é ruim”. (M.C.)

Não só os filmes serão ruins se os espectadores forem ruins, como o reflexo da produção de uma crítica negligente à falta de qualidade dos primeiros e complacente à impotência e desleixo dos segundos será de fato alarmante e catastrófica, como aliás vem sendo nos últimos 20 anos. Desnecessário dizer, mas ainda é importante frisar: é o meio cinematográfico que influencia a crítica muito mais que o inverso. Basta lermos as críticas e entrevistas que se assemelham assustadoramente a qualquer material genérico de press-release ou ainda as críticas que corroboram, pela utilização oportuna e chantagista de uma linguagem prolixa, a tautologia (mais que a crítica de fato) dos conteúdos dos filmes (mais que das suas formas) em forma de publicidade cultural. Voltando à pergunta, eu diria que há uns bons 20 anos a influência da crítica no meio cinematográfico vem sendo nefasta (academicismos travestidos de gestos iconoclastas e aceitos não pelo que são, mas pelo que fingem ser; filmes feitos sob a chancela e a influência cultural do poder crítico vigente; formação de um público mais e mais acomodado, mal-acostumado e sedento por consensos). (B.A.)

Quem é o público leitor de crítica? Você pensa de que maneira serão recebidos seus textos?

Um público carente de boas críticas, de bons filmes ou de ambos. Ou então analfabetos de carteirinha.

Serão ignorados ou deturpados pela maioria.

Você considera que a crítica é influenciada pela visão política e por valores pessoais? Como você avalia isso?

A visão que deve prevalecer é a que preze pela saúde do cinema.

O que o leva a ler/escrever uma crítica?

Se durante a visão de um filme ele se mostra como um “teorema desenrolado no tempo”, se ele tem um raio de alcance extenso nos meus pensamentos, portanto me provocando idéias, costumo sentir vontade de amarrá-las em forma de texto. (M.C.)

"O verdadeiro soldado luta não porque ele odeia o que está a sua frente, mas porque ele ama o que está atrás." (G.K. Chesterton)

Considera que, no seu trabalho crítico, há uma diferença de abordagem para os filmes brasileiros?

Fassbinder uma vez criticou as pessoas que, cheias de boas intenções, chamavam-no de anti-semita porque nos seus filmes havia judeus que agiam de má-fé. Ele dizia que essas pessoas, na verdade, não aceitavam que os judeus fossem como as outras, portanto também capazes de cometer atos duvidosos. O bom-mocismo delas disfarçava suas limitações. Idem para quem é condescendente para com o cinema brasileiro, guetificando-o do próprio Cinema, que é o que deveria interessar. (M.C.)

Não. (B.A.)

Diga honestamente o que você pensa do panorama da crítica de cinema no Brasil hoje. É positivo ou negativo?

Muito ruim. (M.C.)

Inexistente. (B.A.)


(1) A enquete foi enviada para Bruno Andrade, que escolheu por responder conjuntamente com Matheus Cartaxo. As respostas sem iniciais são assinadas por ambos.


 Abril de 2013