Xuxa Requebra,
de Tizuka Yamazaki



Brasil, 1999

A única coisa razoável de Xuxa Requebra é o estressado chefe de redação, o 'chefinho' da Xuxa. Aliás, vê-se dele logo a origem: do programa Armação Ilimitada, série exibida no Brasil nos anos 80 e que constituiu ao menos uma tentativa de linguagem jovem sem preconceito (casamento entre três, adoção de menores, família de amigos e não papai-mamãe), que Evandro Mesquita bem soube samplear de seus amigos de geração e adaptar para o filme da Xuxa. De resto, coube a Xuxa Requebra fazer exatamente o que a Armação Ilimitada não fez: um maniqueísmo nojento, um panfleto que mais mistifica do que informa (e há de se admitir que justamente o que falta a juventude de hoje é informação), um discurso edificante que sempre alcança a máxima felicidade no final. Está tudo muito bem delineado: do lado do mal, as roupas pretas, muito cigarro, drogas, música "pesada", a sede capitalista, etc. Do lado dos bonzinhos, o sofrimento, o rústico, a união que faz a força e sobretudo as músicas "lindas" de Daniel, par romântico do filme, e de Vinny: sente-se logo tentado a torcer para as forças do mal!! E mesmo nessa filosofia uma pisada fundamental: a frase que mais ressoa no final é "Essa foi a coreografia da porrada", uma triste e inconseqüente bajulação da geração muita-saúde-poucos-nervos, para quem, por sinal, parece que o filme foi feito. As aparições contam-se aos milhões, da mesma forma que o merchandising: passam, junto com Tiazinha, Feiticeira, Karla Perez, Luciano Huck, Fat Family, Terra Samba, Cheiro de Amor, Claudinho e Buchecha, inúmeros produtos de consumo, sobretudo para crianças. De forma que o espectador fica sempre se perguntando quando pára o anúncio e começa de vez o filme. Se as "participações especiais" até podem dar algum charme referencial (e mais grana nos cofres), o merchandising chateia firme. Xuxa Requebra é o cavernoso retrato da geração saúde, e arrogando o direito de fazer moral das decisões alheias com o pseudointuito de educar as crianças contra as drogas, contra o cigarro, acaba é fazendo as vezes do preconceito, do capitalismo puro (que tenta criticar), da "porrada" e da magnífica vida dos jovens sarados dançando ao som de Requebra do Vinny e se emocionando ao som das ladainhas de Daniel.

Ruy Gardnier