A
Vingança de Willard, de Glen Morgan
Willard, EUA, 2003
Sob qualquer aspecto, A Vingança
de Willard é frustrante. Quem esperava um remake mais
assustador do que o filme original, dirigido por Daniel Mann, viu apenas
um acréscimo no número de ratos e nas particularidades asquerosas
da concepção. Já quem esperava um tratado sobre a
necessidade de sucesso na sociedade americana, de não ser um "loser",
tem apenas um discreto comentário. Quem intuía uma observação
aguda acerca do difícil relacionamento de um filho introvertido
com sua mãe controladora, viu somente um desfile de crueldades
dignas de um reles Neil LaBute. A mãe, decrépita, é
filmada para causar asco no espectador, a não ser no momento após
sua morte (encenada de maneira equivocada, com seus olhos abertos, mas
cegos aos ratos), quando aparece arrumada no caixão.
Uma possível boa sacada, e que já
se via no trailer, é desperdiçada pelo sofrível
domínio de narrativa do diretor. O chefe de Willard surfa na internet,
mas entre sua mão e o mouse do computador interpõe-se um
rato. A gag é enfraquecida por insistentes planos da mão
do chefe no mouse antes da invasão dos roedores. Como se o diretor
não estivesse seguro de que a platéia fosse entender a piada.
Da mesma maneira, a sugestão de masturbação com auxílio
de óleo de cozinha, como foi entendida pela mãe, não
pode ser chamada de bem sacada, tamanha sua obviedade.
O filme desenvolve-se assim, acumulando obviedades
e gratuidades como o assassinato de Sócrates, o rato do bem (em
contraponto ao rato do mal, Ben). Sua morte é vista de forma grosseira,
pura tortura com o protagonista. São cenas que enfraquecem uma
possível opção pelo fantástico. A caricatura,
aqui, não dialoga com um gênero, mas com uma vontade de zombar
de seus personagens, forçando uma empatia com Willard que é
muito difícil de ser conseguida. Ao filme faltou a loucura, o inusitado.
E, acima de tudo, dar humanidade aos personagens. A colega de escritório,
vivida pela fraca Laura Elena Harring, bem que parece uma tentativa de
humanização, mas em momento algum, talvez até pelas
limitações da atriz, revela-se algo mais que um ser patético.
A Willard faltou firmeza em sua convicção na aliança
com os ratos, faltou-lhe honradez, faltou assumir seu lado cruel, presente
sobretudo na figura de Ben, um rato enorme e melhor construído
como personagem. Sua traição, sem essa entrega a seus instintos
animais, não é comprada pelo espectador. Aliás, da
maneira como se apresenta, não seria comprada de jeito algum. Daí
o diretor pode tirar uma importante lição: ao privilegiar
os aspectos ridículos das pessoas, suas picuinhas, faz-se a platéia
torcer pelos ratos. Ou seja: com a morte de Sócrates, o inofensivo
ratinho branco, e a catarse da vingança dos ratos contra seu algoz,
acaba o interesse pelos estúpidos humanos que restaram.
Mas, é claro que o filme tem momentos
que funcionam. Quando um gato invade o lar tomado pelos ratos e se assusta
com o enorme exército que tem a sua frente, ouvimos "Ben" de Michael
Jackson, suave ode à amizade que vira tema da ratazana perversa.
Willard tenta evitar que Ben entre em seu quarto, mas quando acorda vê
a bengala roída e o triunfante Ben a seu lado. A atmosfera lúgubre
por vezes funciona, reiterando o aspecto sombrio da personalidade de Willard.
Momentos insuficientes. A impressão é de que Glen Morgan
não sabia ao certo o que queria. Entre a fábula gótica
à Tim Burton e a história de vingança de um fracassado,
o diretor hesitou e fez um filme esquizofrênico (característica
que não é necessariamente ruim) que não convence.
Uma mistura de sugestões que malogra pela ingenuidade das intenções.
Sérgio Alpendre
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