Villa-Lobos
Uma Vida de Paixão,
de Zelito Vianna
Villa-Lobos Uma Vida
de Paixão, Brasil, 2000
O subtítulo do filme poderia bem ser
uma saída ao cinema brasileiro "oficial" de reconstituição
histórica e adaptação literária. Pois, já
que há essa restrição temática no cinema brasileiro
para arrecadar verbas com os gerentes de marketing das grandes empresas,
ao menos o cinema pudesse ser feito com o tesão característico
da vida do compositor que é tema do filme. Mas, à medida
que começa o filme, as esperanças vão sendo frustradas:
a vida pode ser de paixão, mas o filme é tão certinho
que redunda quase sempre na placidez e num muito fácil romantismo
do gênio incompreendido.
Formalmente mais ousado do que os outros
primos filmes históricos, Villa-Lobos não parece aproveitar
muito do labirinto temporal que cria. Ambigüidades positivas, não
cria; mas cria negativas: quando Letícia Spiller é apresentada
ao público, não estamos suficientemente identificados com
Villa-Lobos a ponto de levarmos como uma atitude não-canalha sua
traição. De qualquer forma, o modelo filme-histórico-quebra-cabeça-temporal
acaba se transformando em fórmula: seja O Poderoso Chefão,
seja Bird, etc. Villa-Lobos se resuma a copiar quando poderia ter
criado.
Mas o filme apresenta alguns aspectos positivos:
a adesão do público, principalmente dos mais idosos, é
bem-vinda e sem par no cinema brasileiro recente. Mas o próprio
Villa-Lobos, não o filme, mas o artista, soube ser popular sem
cair no populismo em que Villa-Lobos, o filme, cai. No momento
mais brilhante do filme, o único em que a figura de Villa-Lobos
realmente brilha (e tiremos o chapéu a Antônio Fagundes nessa
cena), é exatamente a relação do artista com o público
o assunto. Villa-Lobos está de cama, recuperando-se de um ataque.
Ele é entrevistado, e responde: "O povo é horizontal;
a música clássica é vertical; mas a minha música
é diagonal". Quando indagado sobre o que queria dizer diagonal,
subitamente afetado pela falta de palavras, Villa responde brilhantemente
o indizível: "Cada um tem que descobrir o seu diagonal".
Pode-se dizer que em Villa-Lobos, o filme, a estética está
horizontal demais para conseguir ser diagonal.
Ruy Gardnier
|
|