Urbania,
de Flavio Frederico

Brasil, 2001


Urbania é uma das propostas de realização mais instigantes do recente cinema brasileiro: tentar uma mistura de linguagens entre a ficção e o documental que dialogue com a evolução da cidade de São Paulo, em todos os níveis (arquitetônico, social, cultural, etc), nos últimos 50 anos.

No início, o filme até funciona. Extremamente bem filmado tanto nas cenas de carro (e como é difícil uma filmagem em carro não ser tediosa), como nas ruas, ele apresenta seus personagens e sua proposta de forma dinâmica, onde as primeiras inserções efetivamente documentais (entrevistas com pessoas nas ruas que contracenam com os personagens) parecem perfeitamente integradas ao conteúdo do filme.

O que acontece, porém, é que infelizmente a narrativa não sustenta sua duração de longa metragem. É difícil apontar o motivo, mas há indícios. A linha narrativa ficcional é excessivamente tênue, e não comporta um "drama" de fato que una as pontas do filme. A inserção do suposto "passado" parece arbitrária e deslocada demais, efetivamente desimportante (nos parece que seria melhor usar o passado de São Paulo, sem querer que seja o passado do personagem também). E, acima de tudo, as passagens documentais vão se esgarçando, perdendo força. O maior exemplo é uma ida à periferia, onde nada de fato acontece com os personagens ou com o filme, nenhuma informação é adicionada, e fica clara a manipulação pelo roteiro de querer inserir sem sucesso uma observação sobre a favelização da cidade. Falta organicidade ao filme.

O que certamente não chega a tornar o filme desinteressante, de forma alguma. Ele simplesmente não consegue atender as expectativas que cria com sua proposta e com seu início. O espectador acaba disperso na narrativa, e pensando no filme que poderia ser bem mais do que o apenas simpático que ficou.

Eduardo Valente