Um Domingo Qualquer,
de Oliver Stone


Any Given Sunday, EUA, 1999

De Stone não se espera grande coisa. Sempre aquele mesmo evento que parece engajar a América inteira, parece fazer regrar um estranho acerto de contas com um segmento da história americana. Assim com o Vietnã (Platoon, Nascido em Quatro de Julho), com a onda de serial killers (Assassinos por Natureza), com os presidentes americanos (JFK, Nixon) ou com os movimentos 'de massa' (The Doors). Dessa vez, o grande engajamento é com o esporte popular da América, o futebol americano e todas as suas lendas, a importância que tem na economia americana e na cabeça dos jovens que desejam a qualquer preço conseguiur o estrelato através do jogo. E, como sempre em filmes de Oliver Stone, vemos a relação bem/mal já sempre demarcada de partida, e ao mesmo tempo sabemos que existe um mauzinho que vai se regenerar no final do filme. Maniqueísmo perde, é preciso inventar uma outra palavra.

Mas o que mais amedronta nos filmes de Stone, Um Domingo Qualquer especialmente, é que tudo sempre é filmado do ponto de vista institucional, tudo é filmado da maneira que sempre se vê na televisão. Da maneira que se fotografa, da maneira que se reporta a alguém, etc. Oliver Stone é um cineasta da autoridade. Por isso é sempre tão estúpido o jeito como ele trata os jornalistas em seus filmes (Assassinos por Natureza e Um Domingo Qualquer). Nos dois, o papel do jornalista é o de um sujeito arrogante, vingativo e afetado. Grande coisa, pode-se dizer; há muitos jornalistas assim. Mas o que Stone parece não perceber é que o trabalho que ele faz é milimetricamente igual ao trabalho de um jornalista (no pior sentido do termo). É sempre a voz do poder que fala através dos filmes de Stone, na maneira com que ele aborda os personagens, na maneira como enquadra a no modo como filma. Um Domingo Qualquer é um misto de ESPN com novela da Globo.

Ruy Gardnier