Gatos
Numa Roubada,
de Gregory Poirier
Tomcats,
EUA, 2000
Em 1981 Amy Heckerling dirigiu Picardias Estudantis, uma espécie
de atestado de boa saúde da juventude contemporânea. A principal
graça do filme era que a diretora tinha um olho metade de antropóloga
metade de amiga, o que dava uma forte dimensão humana ao filme,
e abria um filão bastante prolífico no cinema comercial
americano: a comédia adolescente. Se compararmos a hoje, veremos
que filmes como 10 Coisas Que Eu Odeio em Você, 100 Garotas
ou Ela É Demais mantêm uma intimidade com os personagens
que é apenas instrumental, mas ainda se põem do ponto de
vista dos impopulares, daqueles que encaram a escola do ponto de vista
de fora (porque ninguém parece desejá-los) e de dentro (porque
é de fato a situação em que estão). O que
fazer então com Gatos Numa Roubada, filme que sob todos
os aspectos é normalizador, estereotipado, preconceituoso? Vamos
à sinopse: no dia do casamento do primeiro de um grupo de amigos
(todos homens), todos os outros decidem fazer uma caderneta de poupança
que tornará rico o último a casar, porque o ideal dos "tomcats"
(os gatos da tradução do título) é bang
babes – comer gatinhas, na tradução exata. Sete anos
depois, dois homens disputam a mesma gata. Um é canalha, aproveitador,
mas vai se casar mesmo assim. O outro é garanhão mas romântico,
e está de fato procurando sua cara-metade. Gatos Num Roubada
será feito das peripécias dos dois para conseguir o
coração da musa. Tanto as escolhas do roteiro e da narração
(o filme se passa do ponto de vista dos homens, sempre) quanto o "target"
do filme (certamente os mesmos rapazes que se vêem retratados no
filme) indicam algo de esquisito, muito esquisito nesse filme. Misógino
até não mais poder (as mulheres só existem por expediente),
de piadas óbvias desde Porky's e executadas sem gênio
ou graça, mas acima de tudo como a glorificação dos
rituais do homem-macho-branco-conquistador, é impossível
assistir a Gatos numa Roubada sem abrir um parêntese por
minuto (e haja parênteses). Asqueroso e terrivelmente sem graça.
Ruy Gardnier
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