Lara Croft Tomb Raider –
A Origem da Vida, de Jan de Bont


Lara Croft Tomb Raider: The Cradle of Life, EUA, 2003

Nunca é um bom sinal para um filme de ação se o espectador passa boa parte do tempo de projeção olhando para o relógio, ansioso pela hora de ir para casa. Lara Croft 2 é assim. Um verão americano especialmente interessante, por nos trazer desde a ação pós-moderna e insana de um Panteras Detonando, até o filme-experiência de Ang Lee (Hulk) até a retomada de uma série em fascinante mistura de humor, violência e filme B (T3), este filme representa o momento mais desinteressante entre os blockbusters deste ano, pelo menos dos que chegaram aqui até o momento. Não contente em não ter nenhum dos interesses dos acima citados, o filme não possui sequer algum interesse em ser simplesmente bom naquilo que faz: burocrático ao extremo e completamente desinteressado de si mesmo, é, na melhor das hipóteses, um mau filme de James Bond para o público do século XXI.

Mas, mesmo visto assim, o filme escapa entre os dedos. Afinal, o que ele tem de fato de século XXI? Trabalhando com uma personagem que vem dos videogames, Lara Croft é em tudo inferior a este formato inicial. Segue uma lógica narrativa de "passagem de fases", onde só esquece que o espectador, uma vez retirado do processo interativo desta passagem, fica absolutamente sem função ao assistir aquela seqüência de cenas de ação. Mas, não se trata de uma seqüência de cenas com a novidade visual-lisérgica de um Panteras, e sim uma boa e velha seqüência ao estilo de James Bond, só que onde tanto vilões quanto heróis não possuem o menor charme ou interesse – ou seja, em tudo oposto aos melhores 007. Os momentos absurdos são até engraçados (como o soco de Lara em um tubarão), mas falta o interesse humano e a vulnerabilidade-invulnerável de um Bond – em todos os momentos Lara não parece nada além de uma super-heroína de plástico. O interesse romântico é especialmente falso e assexuado, e os vilões são francamente ridículos. Mesmo os efeitos nas lutas e cenas de ação, sob os standards de hoje, pós-Matrix ou Homem-Aranha, não possuem qualquer interesse. Lara Croft poderia funcionar, no seu melhor, como autêntica diversão B, mas tem vergonha de assumir isto e se esconde atrás de uma exaltação boba e comercialóide de gadgets tecnológicas (sempre com os patrocinadores com suas marcas bem grandes – e dá-lhe Panasonic, Nokia, etc) e de uma certa lógica narrativo-arqueológica que parece vir do pior de Indiana Jones. Em suma, sub-sub-sub-tudo, não possui interesse nenhum para qualquer tipo de olhar. É um filme que já nasce velho.

Eduardo Valente