A
Vingança do Mosqueteiro,
de Peter Hyams
The
musketeer, EUA, 2001
Pode ser que algum dia um revisionismo inesperado consiga descobrir na
carreira de Peter Hyams um significado que escapou do olhar de todos quando
da realização dos seus filmes. Não se pode negar
tal possibilidade, uma vez que tantos outros cineastas passaram por tal
processo. Mas, seria surpreendente. O fato é que Hyams (cujos últimos
filmes incluem Timecop e Morte Súbita, veículos
de Jean Claude Van Damme e Fim dos Dias, de Schwarzenegger) é
principalmente um realizador, não um "cineasta". Recebe um script,
um salário, e realiza o seu filme. Um homem da indústria,
mas um homem a quem não se deve negar pelo menos a competência
e o know-how sobre sua ocupação (know-how inclusive técnico,
porque ainda hoje e desde sempre ele é o diretor de fotografia
de seus próprios filmes). Este A Vingança do Mosqueteiro
tem exatamente os ingredientes todos deste filme "de indústria".
Se por um lado é
prejudicado pelo roteiro absolutamente constrangedor e sem sentido (que
parece ter saído de algum software vagabundo de manufatura de roteiros),
e pelo clima de "estamos aqui por obrigação" que perpassa
todas as performances dos atores, a experiência de Hyams impede
que o filme seja completamente insuportável, por conseguir imprimir
algum ritmo e mantém os olhos na tela.
É verdade que
para isso conta com dois aliados. Primeiro, a atuação de
Tim Roth, única a fugir da modorra geral compondo um vilão
tão ensandecido e fora de realidade que consegue duas proezas:
fazer o cardeal Richelieu de Stephen Rea parecer um coroinha e manter
o espectador interessado em pelo menos uma figura em cena. Roth faz de
seu personagem uma figura quase de história em quadrinhos, parecendo
o general Thade do Planeta dos Macacos com menos cabelo no rosto
e no corpo.
O outro aliado é,
de fato e claramente, o verdadeiro motivador do filme sequer ser feito
e cogitado pelo estúdio (como ficava claro no trailer, no cartaz,
etc): a presença de Xin Xin Xiong, o coreógrafo de cenas
de ação responsável pelos delírios visuais
de vários filmes de Tsui Hark e Jet Li. Aqui sua função
era dar a tal "atualidade" aos mosqueteiros simplesmente ao fazer com
que suas lutas fugissem da clássica esgrima e misturando movimentos,
vôos, cenas de tirar o fôlego. É verdade que ele acaba
só sendo bem sucedido em duas cenas, já no final do filme,
o que representa um certo problema. No entanto, também é
verdade que são duas ótimas cenas, que quase valem o preço
do ingresso. Numa delas uma torre é usada como "chão" pelos
personagens, em duelos verticais pendurados em cordas. Na outra, as escadas
de uma sala compõem um surreal mosaico visual e um balé
fascinante. Não chega a justificar o filme ser feito, mas certamente
mantém o espectador entretido até o final. Tão profissionalmente
e sem empolgação quanto todos os envolvidos na produção.
Eduardo Valente
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