O Núcleo - Missão ao Centro da Terra,
de Jon Amiel

The core, EUA, 2003


Claramente Jon Amiel desistiu de ser um diretor sério após os fracassos de Sommersby e Copycat, e resolveu somente se divertir. Melhor para ele e para todos nós. O fato é que O Núcleo consegue ser um dos mais divertidos e auto-conscientes "filmes B" produzidos por Hollywood em algum tempo. Se você vir alguém dizendo que "a história não faz sentido", ou que "os personagens são muito caricaturais", pode acreditar que foi alguém que não entendeu nada. Não só Amiel e seus roteiristas estão cientes de cada uma dessas características do filme que fizeram, como mergulham nelas até o final. A entrada em cena de personagens como Braz ou Rat não podem ser vistas como nada mais do que uma diversão sem limites (embora o personagem mais completamente fora de si seja o de Stanley Tucci, que parece se espelhar no Peter Sellers de Dr. Fantástico em cada segundo da sua composição do cientista maluco). Da mesma forma, toda a explicação "pseudo-científica" em que se baseia a trama (não só no seu set-up, mas principalmente na sua solução), parece ter sido escrita numa aposta do tipo "quero ver quem vai mais longe no absurdo".

Mas, como não joga só na chave da comédia, é claro que O Núcleo aproveita ainda uma outra característica, esta mais intrínseca do gênero do filme-catástrofe clássico: o fetichismo (que alguns declaravam morto, pós-11/9) de ver algumas cenas apocalípticas encenadas (aqui, no caso, a destruição de Roma e São Francisco). E aí Amiel também mostra domínio do cinemão de efeitos visuais, construindo algumas sequências muito interessantes na linha do "só mesmo Hollywood pode fazer você entrar nesse mundo mágico". Sabendo dosar estes momentos com um bom humor raro, Amiel constrói um filme muito difícil de se desgostar, que não pára de surpreender pelos limites onde parece não ter vergonha alguma de levar sua "cara de pau". E que ainda tem um comentário político sutil e saboroso, quando revela um plano insano de defesa elaborado pelo presidente americano para se proteger previamente de um ataque de outro país, cuja sigla soletra MAD ("louco"). Por essa já valeria.

Eduardo Valente