Tenha Fé,
de Edward Norton


Keeping The Faith, EUA, 2000

Nada sobre minha amada

Depois de atuar em dois filmes que preferem a polêmica fácil e a aparente rebeldia (A Outra História Americana e O Clube da Luta), Edward Norton dirige esse Tenha Fé, que é tudo menos um filme provocador. A primeira cena mostra um Norton cambaleante, com uma garrafa na mão. Ele entrará num bar e contará ao bartender toda a sua história, que entretanto não é uma história de amor comum — pelo simples fato que ele e o amigo que disputa a mesma mulher são os conselheiros espirituais de suas religiões — Norton um padre e Ben Stiller um rabino. Amigos desde a infância, suas vidas tranqüilas são abaladas pela chegada de uma amiga/musa que fazia com eles o trio infantil. O filme passa a rodar então em torno dos dramas psicológicos na cabeça de cada um: um, que não pode se apaixonar porque não pode contrair relações amorosas; o outro que pode, mas não deve se casar com ninguém que não seja da comunidade judaica. E, entre eles, uma radiosa Jeena Elfman, poderosa mulher de negócios e o tipo perfeito de menina-amiga-de-menino: sem frescuras, sempre sorridente, topa-tudo, desprendida mas com muita feminilidade. Ela é a única coisa no filme que parece adeqüada e sob medida para as situações. Norton, como diretor, preferiu acreditar no contrário: que o mais interessante no filme seria a luta de cada pastor para manter os dogmas de suas igrejas e seguir levando suas vidas sem grilo. No final, sabemos tudo sobre eles, heróis previsíveis e pouco simpáticos, mas não sabemos nada sobre Jeena Elfman. É nessa aposta que o filme bota tudo a perder.

Ruy Gardnier