Tempo
de Espera,
de Moufida Tlatli
La Saison des Hommes,
Tunísia, 2000
Como no seu primeiro filme,
Silêncios do Palácio, Moufida Tlatli tematiza mais
uma vez a figura da mulher na cultura árabe, e mostra mais uma
vez as dificuldades, limitações e tentativas de fugir das
amarras sociais e trabalhar sua sexualidade. As relações
familiares, em especial de marido e mulher, mas também entre mãe
e filhas e pai e filhas. Só que, se no primeiro filme um certo
tom de fábula dava grande encantamento ao trabalho, neste aqui
falta à diretora a capacidade de mesclar suas intenções
com um desenvolvimento narrativo adequado. Lá pela metade da projeção
a impressão que o espectador tem é que já entendeu
tudo que a diretora quer dizer e passar com o filme, e que este parece
começar a andar em círculos. Também, a estruturação
da trama em dois tempos que vão caminhando para uma junção
(o flashback vai explicando o presente) não chega a funcionar
porque muitas vezes a transição simplesmente é esquecida,
e passamos tanto tempo no passado que fica a dúvida se a narrativa
linear logo de cara não funcionaria melhor.
Um fator interessante no
filme é a presença já notada em filmes como o iraniano
Leila da figura da mãe (portanto de uma mulher) como a maior
opressora, como se estas fossem de fato as maiores responsáveis
pela propagação de um conservadorismo com o qual os homens
mesmo não fariam questão de perpetuar. Claro que isso se
deve a uma introjeção da própria opressão,
mas não deixa de ser um fator inesperado que o filme reforça.
Outro ponto de interesse é a origem do próprio título
original do filme: a idéia de uma "temporada dos homens".
Os maridos trabalham o ano inteiro na capital, deixando mulheres e filhos
no interior, e só passam uma temporada por ano com eles. O fato
é que, através de frestas como estas, aprende-se muito sobre
os costumes e particularidades desta cultura, garantindo ao filme um interesse
extra-linguagem inegável. Mas, como obra cinematográfica
não consegue estabelecer uma ponte mais efetiva com o espectador
de hoje.
Eduardo Valente
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