Surf
Adventures - O Filme,
de Arthur Fontes
Brasil,
2002
Os realizadores deste lançamento de verão brasileiro sabiam
tão bem o que estavam fazendo que a primeira cena do filme resume
de forma perfeita a noção que ele vai desenvolver pelo resto
de seus 90 minutos: o surfista como Peter Pan, o menino que jamais cresce,
e que passa a vida a viajar pelo mundo perseguindo a onda perfeita. Num
outro momento, é um dos surfistas quem diz que num mundo de tantas
guerras e acontecimentos estranhos e desagradáveis, ele é
um abençoado por poder passar dias em praias paradisíacas
pegando ondas com os amigos. É dentro destas duas idéias
que os realizadores constróem, do mito do modo de vida do surfista
como uma aspiração de todo ser humano (especialmente os
mais jovens, óbvio), por sua liberdade e prazer, que o filme se
sustenta e se coloca no mercado.
Esta palavra, aliás,
é essencial no entendimento do projeto, uma vez que foi pensado
do início ao fim como um produto, algo voltado para um fim muito
específico: satisfazer o jovem brasileiro nas férias de
verão. Ao contrário do que possa parecer, isso não
é demérito algum. Quem dera mais projetos de cinema brasileiro
tivessem um objetivo claro assim. O fato é que, uma vez que se
volte para isso, fica difícil julgar o sucesso ou fracasso do empreendimento
por quaisquer outros parâmetros. O número de bilheteria não
chegou a ser impressionante (perto dos 200 mil espectadores), o que é
bastante estranho dada a empolgação que claramente emana
da tela e contagia a platéia.
Este é um fator
importante na análise do filme: ele está vibrando com a
energia desejável, o tempo todo. O diretor, os produtores e toda
a parte técnica completam com capricho a equação
"imagens impressionantes, ritmo vibrante e trilha sonora energética".
O filme tem um forte componente da velha magia das imagens em movimento
que remonta aos primórdios do século e o cinema de "vistas",
onde bastava uma paisagem bela, exótica, ou a natureza impressionante
para garantir o fascínio do espectador. Montado em cima disso,
com a adição do atrativo do surfista e sua mistura de zen
e coragem extrema, o filme fascina o olhar e a atenção o
tempo todo.
Em termos de narrativa,
é extremamente episódico e não chega a buscar uma
evolução. Apenas ilustra seguidamente aquela tese inicial,
e recheia entre uma onda e outra com depoimentos de surfistas brasileiros
e estrangeiros (alguns até realmente interessantes), e alguns momentos
de "bastidores" da rotina e do estilo de vida. Não se inventa um
roteiro quase ficcional como o do clássico Endless Summer para
conectar as cenas no mar. Após a metade do filme, isso realmente
começa a fazer falta, pois existe um máximo de cenas de
ondas que possam ser assistidas mantendo o mesmo entusiasmo inicial. O
filme esgarça um pouco pela duração que excede a
do programa de TV no qual se baseia. Mas a força daquelas imagens
na tela grande e com som digital é inegável, e sempre que
possível apela-se para elas, e podemos ouvir os "oooohhh" no cinema.
Ao final, pode-se
dizer que a missão está cumprida pois no fundo o estilo
de vida do surfe ainda fascina a todos como fazia há quase 40 anos
com o citado Endless Summer. Apoiado neste fato, os realizadores
do filme se esmeram em realizar um trabalho que, se não inova no
gênero, o representa com enorme competência, simpatia e conhecimento
de causa. Não se pode pedir muito mais de nenhum filme.
Eduardo Valente
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