South
Park: Maior, Melhor e Sem Cortes,
de Trey Parker
South Park: Bigger, Longer
& Uncut, EUA, 2000
South Park
não é cinema.
Nada de mais uma série de televisão
de sucesso virar um filme. É o caminho normal da produção
audiovisual. O cinema é o último passo, é a etapa
que legitima a existência e é o objetivo final na carreira
de qualquer programa. Chegar à tela grande é sinal de esplendorosa
vitória.
A vontade do público, aliada a sua
incapacidade de compreender o espetáculo cinematográfico
ou televisivo de forma independente, faz do acontecimento da transposição
para cinema inevitável. As expectativas em torno de South Park
foram imensas. Apesar da animação ser tão adequada
à televisão, ao seu formato e público, essa mistura
de mídias acabou se impondo. E, claro, desnecessariamente.
O êxito do programa na TV não
pedia essa mudança. Fazer de South Park um filme foi um
equívoco. A solução adotada para não torná-lo
maior foi compor as duas horas de projeção com uma história
que resumisse de forma eficaz todos os elementos da série de televisão
sem ser um simples episódio maior. As piadas incômodas de
TV ficaram então mais sórdidas. As situações
ganharam em repugnância. Chocar no cinema exige mais acidez e o
filme tem isso de sobra. O riso recorrente sempre aparece, mas como o
resultado de uma surpresa com a coragem que tamanha falta de pudor exige.
Quem conhecia South Park da TV, pelo menos ganhou de presente uma
radicalização do seu absurdo.
Mas diferenciação em relação
a TV tem nesse filme um lado péssimo. Para sustentar uma duração
4 vezes maior com um enredo que não parece adequado para mais de
uma hora, os produtores usaram artifícios que não se camuflam.
Fica óbvio que a opção por se fazer um musical não
passa de encheção de lingüiça. Mesmo sendo musiquinhas
engraçadas, com situações hilariantes, salta aos
olhos o motivo de se usar esse tipo de gênero. Aqui ele não
foi escolhido para ser satírico com a instituição
americana que é, mas sim para garantir que a ação
toda dure duas horas mesmo não tendo assunto para isso. Fica a
impressão de ser uma adaptação burocrática
exigida por um mercado estabelecido.
Quem vai ao cinema ver South Park
com certeza não está interessado em avaliar esse tipo de
coisa. O público alvo é bem conhecido e restrito e se satisfaz
apenas com o absurdo que já esperava. Para fazer rir, o filme deu
muito certo. Como cinema a história já é outra.
João Mors Cabral
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