Simplesmente Amor, de Richard Curtis

Love, Actually, Inglaterra, 2003

Há uma seqüência em Simplesmente Amor em que o primeiro-ministro britânico (Hugh Grant) decide desafiar (por causa de uma secretária) o presidente americano (Billy Bob Thorton). A cena soa um tanto deslocada dentro do filme, como se estivesse lá só para estabelecer o tom. Porque Simplesmente Amor é essencialmente um produto feito pela industria cinematográfica britânica com o intuito de mostrar que ela tão capaz quanto a americana em construir um produto extremamente popular.

O filme de Richard Curtis é bem eficiente dentro deste intuito, e não deixa de ser interessante perceber como todos os elementos foram devidamente montados. Trata-se de uma comédia romântica (o único gênero no qual os ingleses viram ao longo dos anos 90 sucesso de público para além das suas fronteiras), que marca a estréia na direção de Richard Curtis (o homem que escreveu os roteiros de todas as comédias românticas inglesas que alcançaram tal popularidade), protagonizada por todos os atores ingleses conhecidos que os produtores conseguiram contratar (o que fica claro nas cenas com Rowan "Mr. Bean" Atkinson que está lá por nenhuma razão a não ser a de ser Rowan Atkinson), o filme tem oito ou nove histórias paralelas que parecem garantir algum tipo de identificação para quase qualquer faixa do público.

Simplesmente Amor é um produto e é bastante honesto em relação a isso (será coincidência que o pôster dele se assemelha a um embrulho de presente?). Fazia tempo que não se via um filme tão desesperado em agradar o espectador. Vale dizer que às vezes os esforços de Curtis neste sentido começam a cansar, mas na maior parte do tempo o filme consegue se manter bastante agradável, muito porque Curtis parece ter realmente prazer com todas as histórias que ele vai (um tanto desajeitadamente) construindo para o espectador.

Há uma tendência forte ao excesso que aqui soa bastante agradável. Não só pelo numero de historias e personagens, mas pela forma como Curtis bate na tecla de algumas situações repetidamente ou força a barra em outras. Não chega a surpreender quando nos deparamos com mais de meia dúzia de clímaxes felizes sucessivos dentro deste contexto. O filme parece genuinamente interessado em nos fazer comprar todos estes excessos, e a graça dele acaba residindo aí.

Filipe Furtado