Showtime, de Tom Dey
Showtime, EUA, 2002
Tom Dey, Eddie Murphy e Robert DeNiro, assim
como todos os outros envolvidos nesse projeto, devem ter recebido belos
salários por ele. Isso é o que de melhor se pode dizer de
Showtime. Existe uma linha da crítica brasileira (talvez
até mundial) que prefere tratar o grande produto americano como
tão somente "uma bobagem". Como o leitor a estas alturas
já deve estar careca de saber, esta não é a linha
da Contracampo, e muito menos a minha. Considero que o disfarce de "a
melhor diversão", portanto a não ser discutida, esconde
boa parte da venda de ideologia que sai da metrópole para o mundo.
Mas, isso dito, tomem minha palavra: Showtime é uma bobagem.
É uma bobagem acima de tudo porque,
claramente, ninguém acredita muito nesse projeto. Nem o diretor,
nem os atores, nem o produtor, ninguém. Trata-se apenas de uma
desculpa para todos receberem seus salários, ocuparem um espaço
nas salas de cinema (e vídeo, e DVD, etc), e partirem para a próxima.
E o filme mostra isso em cada segundo. Um roteiro absolutamente preguiçoso
e incoerente onde nenhuma situação é levada a cabo,
nenhuma trama parece importar, nenhum personagem deveria poder ser chamado
como tal. Tudo é simplesmente jogado na tela, e se colar, colou.
Mesmo as poucas boas idéias (como a resistência do personagem
de DeNiro ou a participação especial auto-irônica
de William Shatner) são descartadas da forma mais preguiçosa.
A única observação levemente
interessante que se possa fazer do filme é que, na tentativa de
tematizar os reality shows, o cinema tem se mostrado bem menos
capaz do que os próprios de despertar qualquer observação
inteligente. Enquanto virou mania escrachar os shows de realidade da TV
pela sua "falta de contribuição à cultura"
ou sua exploração das pessoas, o cinema que os tematiza
mostra-se muito menos culto ou inteligente, explorando o show que explora
as pessoas, sem conseguir um só questionamento novo ou relevante.
Uma bobagem.
Eduardo Valente
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