Scooby-Doo,
de Raja Gosnell
Scooby-Doo,
EUA, 2002
Há duas formas
principais de transformar um espetáculo televisivo de 20-40 minutos
em um espetáculo cinematográfico de 1h30-2h. A primeira
consiste em levar toda a particularidade da série de televisão
e amplificá-la para conseguir povoar todo o acréscimo de
tempo que um filme para cinema leva, ou então tentar uma coisa
completamente diferente, abrindo mão do formato geral da série
para dar lugar a algo uma estrutura sensivelmente diferente. Se As
Panteras trilharam o primeiro caminho com suficiente sucesso (de público
e crítica), não se pode dizer a mesma coisa de Scooby-Doo.
Logo de partida, a
aposta do filme. Depois de uma série de investigações,
o grupo Mistério S/A está desgastado. Fred está levando
todo o mérito pelos planos de descoberta, que pertencem a Welma.
Dafne, por sua vez, está cansada de ser a donzela indefesa que
é sempre tomada de refém pelo malvado criminoso. Restam
apenas Salsicha e Scooby, que permanecem juntos curtindo a amizade gastronômica
e lesada que ainda os une. Alguns anos depois, surge a oportunidade do
reencontro: o dono de uma ilha de entretenimento deseja que o grupo se
reúna para descobrir um mistério que só eles poderão
desvendar. Daí a gente conhece a ladainha: será uma nova
oportunidade para que eles se lembrem como gostam um do outro e como o
trabalho em grupo (o famoso team work) é capaz de realizar
muito mais coisas que o trabalho individual.
Arriscando-se a ser
em filme o que o seriado não foi, Scooby-Doo se revela desapontador
não só pela mensagem edificante, mas sobretudo pela absoluta
falta de charme na passagem do desenho animado para a vida real. A não
ser pelas pernas de Salsicha que correm sem sair do lugar um dos
carimbos de identidade do desenho é evocado cinematograficamente
quando o dono de Scooby corre sobre a água , não há
nada que justifique a passagem dos personagens à vida real. Freddie
Prinze Jr. ganhou uma ridícula peruca loira hiper-realista, Sarah
Michelle Gellar caminha muito mal pelos trilhos de ruiva-burra, assim
como Matthew Lilliard faz um Salsicha sem qualquer brilho. O pobre Scooby,
inverossímil demais para parecer real e fantasioso de menos para
nos conquistar com seu charme, é simplesmente dispensável.
Resta ao limitado Rowan Atkinson (o Mr. Bean) os únicos momentos
engraçados do filme, fazendo um anfitrião com caras e bocas.
Tomara que Scooby-Doo 2 saiba ser uma melhor mistura de televisão
e cinema, e que seus personagens consigam se definir se eles são
desenho ou atores de fato. No meio dessas opções, Scooby-Doo
é nulo.
Ruy Gardnier
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