Santitos,
de Alejandro Springall


Santitos, México, 2000

Santitos começa não muito diferente das comédias latino-americanas: humor barroco, apelo aos santos, direção de arte com cores berrantes... Se o filme consegue uma simpatia, é mais pela vontade de acertar e pela graça inicial do que pela história: uma mulher histérica vive com outra mulher idem, ambas chorando suas perdas e vivendo infelizes; um belo dia, uma delas tem uma visão de São Judas Tadeu dentro do fogão, que lhe diz que sua filha está viva e foi levada para uma casa rosada. Esse pequeno argumento dá origem a n peripécias da balzaquiana histérica, que vai ao cemitério cavar a cova da filha, se fantasia de prostituta para procurá-la nos bordéis... tudo isso intervalado por confissões ao padre local.

O encadeamento do filme, entretanto, é previsível demais: a propósito de um possível "milagre", de uma aparição bizarra dentro de um utensílio doméstico, a mulher vai aos poucos se desterritorializando, ganhando novos espaços, fazendo sua vida cada vez mais ativa, e terminando por achar um marido nos Estados Unidos. A moral da história é agradável: com um propósito histérico e sem saber, uma mulher é tomada por um santo que faz com que ela aos poucos vá realizando seus desejos ocultos (se sentir desejada como puta, fugir da mesmice do convívio cotidiano, viajar para os estêites...). Mas, apesar de um certo domínio narrativo e timing para certas piadas, as cenas se desencadeiam sem uma paixão especial, dando a perceber aos poucos que o diretor está mais preocupado em fazer tudo certinho do que fazer tudo apaixonadamente... O resultado é o mesmo do parceiro exímio que na cama quer fazer tudo certo: todos os movimentos impecáveis, uma precisão que no fundo esconde uma profunda frieza... e frieza absolutamente não rima com paixão.

Ruy Gardnier