Sanguinaires
A Ilha do Fim do Milênio,
de Laurent Cantet
Sanguinaires, França,
1998
O que mais impressionou ao longo da série
"2000 visto por..." foi o fato de cada filme parecer um pequeno
resumo do cinema jovem (jovem porque todos os diretores escolhidos o são)
do país. É como se ao se posicionar perante uma data como
2000 que parecia marcar um início e também um fim, fosse
necessário fazer um balanço do que se produziu. Assim que
o filme brasileiro (O Primeiro Dia) tratava das questões
sociais e urbanas do Brasil, o filme africano (A Vida sobre a Terra)
mostrava um olhar filosófico-contemplativo sobre o atraso e o estado
da África hoje, o filme asiático (O Buraco) tratou
da solidão populosa das mega-cidades. Todos os 3, aliás,
belíssimos filmes, o que não se pode necessariamente falar
do resto da série que, mesmo assim, se justificou plenamente.
Pois bem, neste contexto, Sanguinaires
se encaixa confortavelmente. Seu olhar sobre o fim do milênio não
podia ser mais tipicamente francês, ou seja, um grupo de pessoas
se reúne, fala quase o tempo inteiro, teorizam, defendem suas posições
com paixão, falam mais ainda, e discutem o sentido desta vida.
Sob muitos aspectos é um filme interessante, ao propor um interessante
jogo de poder numa ilha isolada, onde os personagens vão, supostamente,
para fugir do stress do excesso de comemorações do ano 2000.
Mas, aparentemente, não conseguem fugir nem lá.
Ao longo de curta 1 hora e 10 minutos, o
filme acompanha os diferentes posicionamentos em relação
à passagem do milênio, e lida com as velhas questões
de poder, anseios de juventude, ciúmes, balanço de geração
(no caso da geração dos 30 e muitos, quarenta anos). Transcorre
sem entediar, e sem maravilhar, com segurança de direção
e atuação. No final, a boa surpresa: uma inconclusa e perturbadora
sequência de eventos dá um tom soturno, depressivo e pessimista
para o novo milênio. Mais uma vez, nada mais francês. Se não
se iguala aos 3 melhores filmes da série (até porque não
ousa tanto quanto eles) certamente não se insere entre os erros,
como o belga O Muro.
Eduardo Valente
|
|