Romeu Tem Que Morrer,
de Andrzej Bartkowiak


Romeo Must Die, EUA, 2000

Se o cinema de ação americano tem que agradecer muito nesse final de século, é ao cinema de Hong Kong. Ele, como nenhum outro, conseguiu transformar o estéril discurso de heroísmo que rolava nos filmes da América e fazer deles um jogo de movimentos e jogos psicológicos (Tarantino, especialmente na América, mas igualmente os filmes americanos de John Woo e Hark Tsui). A coreografia e o ludismo passam a tomar o lugar dos assassinatos e do elogio do heroísmo da América contra o mundo. Essa não é uma mudança apenas quantitativa, de moda; é uma mudança qualitaitiva, onde passa a se falar de outra coisa, onde se passa a entreter uma outra relação com o espectador. Joel Silver, produtor de Matrix e desse Romeu Tem Que Morrer, soube muito bem se aproveitar disso. Matrix, apesar de toda fragilidade e da filosofia de botequim que o filme carrega, é muito melhor do que um Gladiador, por exemplo, onde a criatividade é ultrapassada pelo clichê. E Romeu Tem Que Morrer? Trata-se de mais uma brincadeira – uma experiência, se se quiser – de Joel Silver. Pois ele coloca o astro do cinema de ação oriental Jet Li para vingar seu irmão contra duas máfias de Oakland – uma, a máfia negra, comandada por Delroy Lindo; outra, a máfia de seu próprio pai, por quem ele foi para a prisão. Claro, Romeu Tem Que Morrer deve ser visto como a luta da old school do cinema de ação contra a nova escola, a que Joel Silver bem representa. Mas se tratando de uma luta já vencida – o cinema de criatividade já ganhou, Jet Li no filme também, é claro –, Romeu Tem Que Morrer carrega em si a inocuidade de seu projeto. A única graça do filme – que, entretanto, não é pouca – é o par amoroso um tanto bizarro que fazem Jet Li e a mulataça Aaliyanh no filme inteiro. Prova que não é em seus filmes de tema explícito que o cinema americano é sociológico, mas em seus mais finos detalhes, quando o filme inteiro parece tratar de outra coisa.

Ruy Gardnier