Réquiem – Um Encontro com Fernando Pessoa,
de Alain Tanner


Réquiem, Suíça/França/Portugal, 1998

Parece haver o tempo todo em Réquiem a existência de dois filmes diferentes. Um, o imaginado pelo diretor, que pode ser percebido nas intenções do roteiro, em alguns belos momentos; e outro que é o filme em si na tela, que nos faz pensar o tempo todo como cada uma daquelas cenas poderia ser melhor realizada e como este argumento, esta escolha de temas poderia resultar mais rica. Infelizmente, Réquiem é isso: um filme que poderia ter sido e não foi.

O começo, às margens do rio Tejo, prenuncia um belo filme. Um homem à espera de um encontro. Encontro este que descobre ser dali a doze horas. E parte a passear por Lisboa matando o tempo para este encontro, mas também em busca de paz com o seu passado como vamos aos poucos descobrindo. Neste caminho, encontrará figuras tipicamente portuguesas (é bom que se diga que o homem é um estrangeiro em Portugal), fantasmas do passado, personagens e heterônimos de Fernando Pessoa. Estes encontros são tratados da mesma forma narrativa o que cria um belo clima de poesia no filme, onde o real e o imaginário não são mais distinguíveis. Fora isso, o filme é um passeio por Lisboa, que como já havia sido visto em O Céu de Lisboa de Wim Wenders, é uma cidade que fascina os estrangeiros e têm uma alma própria. Nesta Lisboa o futebol e a filosofia, as tradições e a culinária, o passado e o presente parecem estar sempre em torno dos personagens. Nesta Lisboa pode-se descobrir que muitas coisas causam o câncer, inclusive a infelicidade, uma amostra da tristeza que se mistura com a alegria da música, da comida, do futebol, resultando num povo e cidade muito complexos e bonitos de se ver.

Com todas estas idéias presentes é difícil acreditar que Réquiem possa não ser um grande filme, mas a verdade é que Tanner parece intuir tudo isto mas racionalmente não leva a cabo. Seu personagem principal é misterioso no início, mas a medida que vai se revelando seu passado ele se torna mesmo é desinteressante. Além disso, é mal interpretado por Francis Frappat, e daí vem o maior problema do filme: com toda aquela Lisboa fascinante por trás, com todo o clima de sonho do filme, a falta de carisma do personagem e do ator não permitem ao espectador um verdadeiro mergulho neste universo. Mas não só isso está errado. Tanner acaba tornando a narrativa por demais episódica, na qual alguns momentos (como o jogo de bilhar ou a ida ao farol) até funcionam. No entanto os que seriam os principais momentos de significação do filme, como o encontro com o fantasma da esposa ou o encontro final com o próprio Fernando Pessoa, resultam anticlimáticos e mal utilizados. Assim, ao final, o espectador sente um certo vazio de ter resvalado em material muito interessante, sem ter tido a chance de nele se aprofundar.

Eduardo Valente