Que
Mulher é Essa?,
de Harald Zwart
One
Night at McCool's, EUA, 2001
Talvez seja central para entender este filme saber que o diretor é
holandês, e vem da publicidade. Que relevância podem ter estas
informações? A segunda indica geralmente um profissional
com preocupação formal imensa, sabendo que sua embalagem
vai vender seu conteúdo de uma ou outra forma. E a primeira, quando
vemos um filme tão intrinsicamente americano, ajuda a entender
que talvez ele seja "americano demais". Ou seja, há no filme um
fascínio com a linguagem cinematográfica clássica
norte-americana, que se assemelha a uma criança com um brinquedo
novo: "Mamãe, olha só, estou brincando de fazer um filme
americano!!" É uma reação compreensível, e
que já acometeu inúmeros cineastas de outros países
ao serem chamados para filmar em Hollywood.
O filme ajuda inclusive
a entender qual a diferença de um cinema de citações
como o dos irmãos Coen em relação a este caso. O
olhar dos Coen desvenda algo de inequivocamente americano em cada respiração,
em cada entonação dos atores, em cada citação
cinematográfica, em cada detalhe da cena. Não se trata da
maquiagem pela maquiagem, mas sim da maquiagem revelando o que está
por baixo dela. Trata-se de uma sociedade de aparências, como é
a americana, sendo usada para desmascarar suas fundações.
Já no filme de Zwart, trata-se de entender a América pela
imagem dos seus filmes, ou seja, pelo simulacro e não pela coisa
em si. E a diferença é enorme. Enquanto os primeiros revelam
mais e mais camadas, este exemplo aqui só confirma o já
sabido, inúmeras e inúmeras vezes.
Assim, tem espaço
para todo tipo de utilização de linguagem, passando mais
claramente pelo filme noir, mas também pela comédia de erros
clássica ("screwball comedy"), pelo cinema de ação
de inspiração pop-Tarantinesca. E até mesmo para
citações diretas que vão do Cidadão Kane
até o bem mais obscuro Um Dia de Fúria. O brinquedinho
do diretor revela-se rico o suficiente em atrativos que permitem que ele
não perceba os elementos realmente interessantes que seu roteiro
lhe dá, como a personagem (e o corpo!!) de Liv Tyler, sub-utilizados
ambos, ou ainda o potencial de composição de personagens
cômicos de um Paul Reiser ou mesmo Michael Douglas, ambos igualmente
relegados a segundo plano. Nos resta uma historiazinha que até
de alguma forma engaja o espectador, mas que possui a permanência
de um comercial bem feito, ou seja, nenhuma.
Eduardo Valente
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